Padre Juan Rodriguez: Por que diante desses insultos e falsidades o Senhor permaneceu em silêncio?

Por que não realizou nenhum milagre para Herodes que tanto o desejava, e, no entanto, guardou o mais absoluto silêncio?

23.03.2017 -

“Herodes alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por ele. Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu”. (Lc 23,8-9)

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A Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Padre Juan Manuel Rodríguez de la Rosa – Adelante la Fe | Tradução: Sensus Fidei

Queridos irmão, Nosso Senhor Jesus Cristo permaneceu em silêncio a maior parte do tempo diante de seus iníquos juízes. Não se defendeu contra as falsas acusações dos judeus. Diante do arrogante Anás, Jesus é atado e esbofeteado; na presença de Caifás, o Senhor é condenado por blasfemadores; diante de Pilatos, corrompido como tanto quanto o povo, é acusado; do extravagante Herodes sofre o desprezo e o escárnio.

Por que diante desses insultos e falsidades o Senhor permaneceu em silêncio? Por que não realizou nenhum milagre para Herodes que tanto o desejava, e, no entanto, guardou o mais absoluto silêncio? É porque o Verbo não se encarnou para atrair as honras do mundo através de milagres e feitos portentosos, embora tenha realizado o que tivera de fazer. Encarnou-se para nos redimir do pecado enfrentando sua cruel morte na Cruz. Com Sua Paixão e morte nos reconciliou com o Pai eterno, enquanto Herodes e Pilatos se tonavam amigos. Enquanto o Redentor voluntariamente oferecia a sua vida para a salvação das almas, seus acusadores se uniam em amizade.

Sabemos de tudo o que aconteceu depois.

Mas… aqueles juízes iníquos, aquela amizade interesseira dos acusadores, o injusto julgamento, tudo isso acontece hoje. Os mesmos fatos, a mesma Vítima inocente e puríssima, mas os acusadores e juízes assumiram os postos daqueles do Santo Evangelho. O Senhor diante do novo tribunal e dos novos juízes continha em silêncio, calado. Ele é insultado, escarnecido, humilhado, esbofeteado, escarrado. O que tinha a dizer já o disse, pois tudo está previsto desde o Princípio, nada escapa à Providência divina, aos inescrutáveis desígnios da Santíssima Trindade.

O Senhor ouve em silêncio as acusações, os reproches, os insultos, as provocações. É a mesma cena. Tudo está presente. É o presente eterno de Sua Sagrada Paixão que se atualiza a cada dia.

Por que nos dais uma Lei que não podemos nem queremos cumprir? Vossos mandamentos são um fardo para muitos, não podemos nem queremos segui-los. Nós, homens, colocamos nossas próprias normas acomodadas a nós mesmos, aos nossos gostos e desejos. Não mais proibições. Não mais mandamentos. Não mais sacrifícios, nem penitências, não mais jejuns e abstinências. Não mais limitações à sexualidade. Confrontado com as acusações e recriminações, Jesus permanece em silêncio.

Por que estaríamos sujeitos a uma tradição que nos diz o que temos de fazer e dizer, sem deixar-nos liberdade para decidir? Queremos ser nós mesmos os donos e senhores de nossos atos e de nossas palavras. O passado, passado está. O que em outro tempo foi conveniente agora não é mais. Não queremos estar sujeitos ao que os outros fizeram e disseram. Nós somos a tradição, nós decidimos nosso destino sem depender de nenhuma herança anterior. Não estamos sujeitos a nada, somente à nossa vontade e querer. Diante das acusações e recriminações, Jesus permanece em silêncio.

Não admitimos que haja apenas um único caminho de salvação para o homem. O homem é livre para escolher o seu destino, sua inviolável consciência lhe dita como agir, o que fazer e o que deve acreditar. Nenhuma crença é superior a outra. A multiforme realidade do homem requer uma multiforme manifestação de suas crenças, credos e maneiras de vida. Diante das acusações e recriminações, Jesus permanece em silêncio.

Os acusadores prosseguem repreendendo o Senhor. Não querem estar submetidos além da própria palavra humana, nem a outra moral que a própria consciência lhes dita. Não limitarão os próprios desejos, que devem ser satisfeitos. Seu novo deus será o ventre e a sua luxúria.

O Senhor está só, hoje como ontem. Seus discípulos fugiram atemorizados e acovardados. Pedro negou-o três vezes antes do galo cantar. Apenas a Santíssima Virgem Maria e o apóstolo amado permaneceram fidelíssimos sem medo diante dos acusadores. E embora não estivessem próximos dele nos julgamentos, estiveram-no espiritualmente, permaneceram ao pé da santa Cruz. A Crucifixão se renova constantemente há dois mil anos. Os carrascos continuam martelando os cravos que atravessam a puríssima e alvíssima carne de Jesus Cristo. Seu preciosíssimo Sangue continua fluindo através das mãos do sacerdote, cai sobre a toalha e respinga o solo do altar, e é pisado pelo sacrificador.

Mas alguém vê o preciosíssimo Sangue? Nenhum sacerdote o percebe? Ninguém ouve o estrondoso e insuportável ruído do martelo incessante? Estão todos surdos e cegos? Estão mudos também. Ninguém se estremece com o silêncio de Jesus calado diante de seus acusadores; mas o seu silêncio os acusa e os desmascara: o que Ele disse, dito está para ser cumprido fielmente para quem quiser salvar a sua alma.

Queridos irmãos, a Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo não é um fato meramente histórico; é uma realidade presente além do tempo; é a verdade que permanece constante na Igreja. É a verdade da Igreja que nunca poderá ser esquecida, nem apartada de seu ser mais íntimo. A Sagrada Paixão não pode ser relegada, ou esquecida por um direito de homem, é a realidade acusadora do pecado daqueles que acusam o Senhor, dos que se calam diante da injustiça do inocente, que estão escondidos, que hoje como ontem atraiçoam a Jesus Cristo.

O Senhor permanece em silêncio porque já disse tudo. O que ele tinha a dizer para a salvação das almas, pelas quais deu sua vida na Santa Cruz, dito está. Resta apenas, da parte do homem, cumprir o que estabelecido pelo Redentor exata e fielmente. Tudo está contido na Tradição da Igreja, em seu Magistério, no Depósito da fé que recebemos e temos a sagrada obrigação de transmitir. Ali está tudo o que o Senhor legou à Sua Igreja para a própria santificação, e para que seja manifesto ao mundo, e este possa se salvar.

No Calvário, ao pé da Cruz, estavam a Santíssima Virgem Maria e o apóstolo amado. Mas agora, hoje, há mais um, o que escreve estas linhas. Hoje no Calvário somos três almas que não queremos nos separar jamais da Cruz do Redentor. Três almas que confessam que há um só Deus verdadeiro, o Deus de Jesus Cristo; que confessam que só há uma verdadeira Igreja, a Católica, a que foi fundada por Jesus Cristo, e da qual é a sua Cabeça, e cuja Tradição e Magistério seguirão sempre; que confessam que só há uma verdadeira fé, a católica.

Chegou o momento da Sagrada Paixão; terá lugar o julgamento injusto e as falsas acusações. Dirijo-me para o altar do Sacrifício. A Santa Tradição me recorda: Sacerdos! Celebra Missam ut primam, ut unicam, ut ultimam.

Ave María Purísima.

Padre Juan Manuel Rodríguez de la Rosa

Fonte: www.sensusfidei.com.br  via  www.rainhamaria.com.br