Memória dos mártires do campo de concentração de Dachau, onde foram sentenciados e assassinados mais de mil sacerdotes e religiosos católicos

 

19.07.2017 -

Em 12 de junho passado, com uma missa solene celebrada na Frauenkirche e presidida pelo Bispo Auxiliar Ruppert Graf zu Stolberg, a Arquidiocese de Mônaco da Baviera e Freising celebrou a primeira jornada memorial dos beatos mártires de Dachau.

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Nessa localidade, situada a cerca de 15 km ao noroeste de Mônaco, os nacional-socialistas, após a sua tomada do poder em 1933, haviam criado o primeiro campo de concentração que mais tarde tornou-se o modelo para todos os demais. Entre 1933 e 1945, de acordo com dados oficiais, foram aprisionadas ali mais de 200.000 pessoas, a maioria adversários políticos dos nazistas, ciganos Sinti e Rom, bem como acadêmicos, homossexuais, religiosos e religiosas, além dos judeus da Baviera.

O número de vítimas é estimado em mais de 30.000.

A partir de 1940, com a intensificação da perseguição contra a Igreja, foram condenados nesse acampamento também padres, monges, freiras e laicos católicos militantes, com uma presença maciça de sacerdotes poloneses. Entre os 2.720 ministros de culto registrados como prisioneiros, a grande maioria, 2.579 (94,88%), era católica. Entre outras denominações cristãs também figuraram 109 evangélicos, 22 grego-ortodoxos, 8 veterocatólicos e 2 muçulmanos. Mais da metade não sobreviveu.

O Martirológio romano registrou os nomes de 200 prisioneiros considerados mártires, dos quais 56 – sacerdotes, religiosos e leigos – foram beatificados. Entre eles também o “Anjo de Dachau”, como era chamado pelos outros prisioneiros do campo, o padre Engelmar Unzeitig, um missionário de Marianhill, beatificado em 24 de agosto de 2016. Na sentença de sua condenação à morte estava escrito: “defensor dos judeus”.

Padre Engelmar era originário de Greifendorf, na atual República Checa, onde nasceu em 1911. Ordenado sacerdote em 1939, aos 28 anos, queria ser missionário em terras distantes. Havia escolhido como o lema de seu sacerdócio: “Se ninguém mais quiser ir, eu vou!”

Ele realizou o seu primeiro ministério na Áustria. Indiferente aos riscos, ele denunciou em suas homilias o regime nazista, e exortou os católicos a permanecerem fiéis a Deus e resistir às mentiras do Terceiro Reich.

Em 1941, ele foi preso e deportado para Dachau, onde foram sentenciados e assassinados mais de 1.000 sacerdotes e religiosos católicos, mas também pastores protestantes e sacerdotes ortodoxos. No campo de extermínio, padre Elgelmar cuidou dos presos, especialmente os russos, aprendendo o seu idioma e ajudando-os materialmente e espiritualmente. Em decorrência de um surto de tifo, os doentes foram abandonados em um galpão onde ninguém pensava em ir: mas ele foi lá, para ajudá-los como podia e, no final, foi infectado e morreu sem receber o mínimo cuidado. Era 22 de março de 1945. No dia anterior ele havia completado 34 anos. Foi sacerdote por apenas seis anos, quatro dos quais passados no campo de concentração nazista.

Em uma carta escreveu: “Em tudo que fazemos, em tudo que queremos, é sempre e somente a graça que nos guia e nos conduz. A graça de Deus Todo-Poderoso nos ajuda a superar qualquer obstáculo. O amor duplica a nossa força, torna-nos ricos em fantasia, felizes e livres. Se apenas as pessoas soubessem o que Deus tem guardado para aqueles que o amam!”

O Cardeal Angelo Amato, que o proclamou “beato” em 24 de setembro de 2016, na Catedral de Würzburg, entrevistado por Sergio Centofanti para a Rádio Vaticana, afirmou: “Padre Unzeitig aparece como uma centelha de verdadeira humanidade na noite escura do terror nazista. Ele mostra que ninguém pode extirpar a bondade do coração do homem. Amando a Deus com todo o seu coração, foi misericordioso e caridoso com aqueles que, como ele, estavam sofrendo com as misérias e humilhações do cativeiro.

Para dar consolo aos prisioneiros russos traduziu grande parte do Novo Testamento para aquele idioma para reavivar sua fé. Com sua presença atenciosa e cheia de bondade dava esperança aos prisioneiros oprimidos e desesperados do campo. Atendeu os doentes mais debilitados, acompanhando-os com afeto maternal até o fim. Com ele a morte tornava-se uma passagem serena rumo à eternidade. O ato supremo de amor foi seu oferecimento voluntário para ajudar e atender os doentes de tifo em Dachau”.

Apesar da experiência desumana do cativeiro manteve-se paciente e alegre, tentando manter alto, nos prisioneiros, o sentimento de dignidade e humanidade. A sua condição foi considerada por ele como um status honorário, um privilégio para testemunhar o amor de Cristo. A sua força de espírito despertou admiração e deu a todos o fôlego necessário para continuar a suportar uma situação sem esperança. “Foi o amor personificado”, disse a seu respeito o padre Adalberto Balling. Outros o chamam o nosso beato, o mártir da caridade, o Maximiliano Kolbe dos alemães.

Papa Francisco, no Angelus de domingo, 25 de setembro, o dia após a sua beatificação, disse a seu respeito: “Morto pelo ódio à fé no campo de extermínio de Dachau, opôs o amor ao ódio, à ferocidade respondeu com serenidade. O seu exemplo nos ajude a sermos testemunhas da caridade e da esperança, mesmo em meio às provações”.

Fonte:  Settimana News  via  blog.comshalom.org/carmadelio