Brincando com fogo: O setor elétrico brasileiro caiu no colo dos chineses.

A compra de gigantescos ativos pelas estatais chinesas traz o Partido Comunista Chinês para dentro da economia brasileira; para dentro da política brasileira

 

11.10.2017 - Nota de www.rainhamaria.com.br

Artigo publicado no site em 02.04.2017

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Por Péricles Capanema

O Estadão de 3 de março estampa em manchete: “Shangai Electric fará proposta para assumir obras de R$ 3,3 bi da Eletrosul”. Em destaque gráfico o jornal recorda fatos relacionados: “Últimas compras feitas por chineses: CPFL. Em julho de 2016 a State Gridcomprou fatia de 23% da Camargo Corrêa na CPFL por R$ 5,8 bilhões. Neste ano, concluiu a compra do controle por R$14 bi. Estrela. Em agosto de 2015, a China Three Gorges (CTG) comprou duas hidrelétricas da Triunfo Participações e Investimentos por quase R$ 2 bilhões. Leilão. Em novembro de 2015, CTG venceu o leilão da Ilha Solteira e Jupiá (CESP), por R$ 13,8 bilhões. Em 2016, comprou a Duke Energy por US$ 1,2 bilhão”.

Informa a reportagem assinada por Renée Pereira, a Shangai Electric deve apresentar até 10 de março proposta para assumir várias concessões de linhas de transmissão de energia da Eletrosul, subsidiária do grupo Eletrobrás.

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Em nenhum momento, o texto elucida que a Shangai Electric é controlada pelo governo chinês. Também não esclarece que a China Three Gorges e a State Grid são estatais chinesas. Outro modo, são empresas controladas pelo Partido Comunista Chinês (PCC). Nenhum leitor terá visto o PT condenar a tomada paulatina do setor elétrico brasileiro pelo capital estrangeiro (no caso, o capital comunista chinês). Convém-lhe o fato.

Passo agora à reportagem de agosto de 2016, revista Exame, assinada por Maria Luiza Filgueiras. Título “O setor elétrico brasileiro caiu no colo dos chineses”. A jornalista lembra que a State Grid fatura 340 bilhões de dólares por ano, tem 1,5 milhão de funcionários. Outra empresa gigantesca, a Huadian gera o equivalente a toda a energia elétrica produzida no Brasil. Está negociando a compra da Santo Antônio Energia. A reportagem ainda menciona a SPIC e a CGN, ainda de origem chinesa.

A State Grid tem hoje no Brasil 7 mil quilômetros de linhas em funcionamento e 6,6 mil quilômetros em construção. É o sintoma de um fenômeno em estágio inicial, a dominação do mercado por empresas chinesas, afirma a citada jornalista. “Eles vão comprar tudo”, disse a ela um banqueiro de investimentos. Nos últimos cinco anos (matéria de agosto de 2016), os chineses investiram 40 bilhões de dólares no setor elétrico brasileiro.

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Todas essas empresas são estatais chinesas (na grande maioria das vezes, fato ocultado do leitor brasileiro). A diretoria delas, nomeada pelo governo, tem o aval do PCC, que governa ditatorialmente em regime de partido único aquele desventurado país. De outro modo, está caindo no colo do Partido Comunista Chinês o setor elétrico brasileiro.

Adiante. O governo brasileiro começa a discutir a venda de terras para estrangeiros. Em entrevista à GloboNews, 15 de fevereiro, o ministro Henrique Meirelles afirmou que o governo liberaria nos próximos 30 dias a venda de terras brasileiras para estrangeiros. “O Brasil precisa de crescimento e de investimento. O agronegócio foi a área que mais cresceu em janeiro. Temos que investir, gerar mais empregos”. É tema delicado, requer debates de entendidos, do livro e da prática. Que se ouça com especial atenção o produtor rural, aqui também quem trabalha em terras arrendadas, que poupa na esperança de comprar seu pedaço de terra. Li em fontes várias, a proposta do governo virá com nota demagógica: 10% da terra comprada por estrangeiro terá que ser dedicada a projetos de reforma agrária. Soa como barretada ao MST, CNBB, e entidades similares, medida na certa prejudicial ao campo e à produção, e que em nada ajudará o trabalhador rural. Exprimo o temor de que o PCC, por meio de estatais e fundos de investimento, acabe comprando centenas de milhares de hectares, se não milhões. E a imprensa na certa vai noticiar na cantilena: “grupos chineses”, “investidores chineses”.

Relembro abaixo o que adverti meses atrás. A compra de gigantescos ativos pelas estatais chinesas traz o Partido Comunista Chinês para dentro da economia brasileira; para dentro da política brasileira. Tais empresas serão instrumentos para alinhar o Brasil aos interesses do comunismo chinês, no caso, de imediato, fortalecer na região os intuitos de Pequim e minar a influência norte-americana. Os mesmos objetivos, com métodos iguais, estão sendo levados a cabo na Argentina, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia. E em outros países.

Por que tanto silêncio? Ponho a nu razão que morde no bolso. Em razão de longa política exterior de hostilidade aos Estados Unidos e à União Europeia, a China hoje é o maior parceiro comercial do Brasil, cerca de 20% de nosso comércio exterior. Vendemos em especial matérias-primas (commodities), sobretudo minério de ferro, soja, óleos brutos do petróleo, em geral por volta de 80% do total, itens com pouco valor agregado. E compramos mercadorias com alto valor agregado, máquinas, aparelhos elétricos, aparelhos mecânicos, produtos químicos orgânicos, em torno de 60% do total. Conta ainda na pauta de exportações a presença crescente de produtos do agronegócio, como carnes, couro, açúcar. É um imenso universo de fornecedores, de cujo vigor depende a sanidade da balança comercial brasileira.

De alguma maneira nos tornamos reféns da China. Ela pode trocar fornecedores, contratá-los em outros países, caso Brasília e setores privados não atuem eficazmente contra sua crescente presença, sobretudo econômica, entre nós. Concebível, setores privados e autoridades governamentais então prefeririam, para salvar vantagens econômicas, o silêncio confrangido (acovardado) sobre o avanço imperialista chinês dentro de nossa casa.

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No fato, conveniências de momento seriam fatores determinantes para conduta que desagua na independência condicionada e na limitação da soberania. Nenhum país sério tolera arranhões em sua independência e em sua soberania. A omissão a respeito caracteriza descumprimento dos deveres de defesa nacional. Se não for cortado esse passo de forma sensata, com lucidez e determinação, no horizonte, já antevisto, desenha-se para nós o estado vergonhoso de protetorado efetivo.Fonte: ipco.org.br