O que podemos dizer àqueles que julgam exagerado falar de apostasia na Igreja?

 

30.11.2017 -

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Evidências da apostasia atual

Por Javier Navascués

A Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo é Santa, mas está composta por homens pecadores. Hoje, mais do que falar de crise na Igreja, deve-se falar de uma apostasia praticamente generalizada das sociedades cristãs e de muitos membros da Igreja.

Flavio Infante, católico, argentino e pai de quatro filhos. Teve a honra de colaborar na revista Cabildo, e também publicar em seu próprio blog, In exspectatione. Nesta entrevista, ele nos mostra que essa apostasia é um fato.

O que entendemos por apostasia?

A apostasia, do grego "estar ou pôr-se" (-stasis) " longe ou distante" (apó) de Deus, é um dos três pecados contra a religião: os outros dois são o cisma e a heresia. Se o herege, ao negar uma o mais verdades reveladas, peca contra a virtude da Fé, e o cismático, dilacera a unidade da Igreja, o faz contra a caridade, É oportuno enfatizar que o apóstata peca contra a esperança. Pois o apóstata é o desesperado no sentido estrito, aquele que voluntariamente recusa o destino da bem-aventurança para o qual fomos criados.

Nesta rejeição da salvação também reside sua distinção com o mero pecador: esse, dependendo da gravidade de suas falhas, pode chegar a perder a amizade de Deus e se afastar da influência da graça habitual, podendo sobreviver nele (embora enfraquecida e em estado esperançoso) a esperança dos bens eternos e este mesmo estado esperançoso, pode levar à sua (re) conversão.

O apóstata, por outro lado, subtrai-se do próprio propósito de sua existência, a projeção final de seu actus essendi, que tem como antecedente imediato o nada e por vocação o Todo, consumando uma conversão de sinal oposto, uma tensão voluntária para o nada. É, em suma, a distinção que pode ser feita entre o pecado sic e simpliciter e o pecado contra o Espírito Santo: o último - no qual o apóstata incorre absoluto - fecha, como é sabido, as portas do perdão de Deus.

Se pode falar com propriedade da apostasia da Igreja, ou melhor convém referir-se à apostasia na Igreja em determinados membros dela?

São Paulo, na Segunda carta aos Tessalonicenses, estabelece a cronologia escatológica da apostasia → manifestação do Adversário → Parusia. É claro que a alusão antonomástica que o apóstolo faz ao crime de apostasia (entendida aqui em sentido coletivo e não meramente pessoal) supõe, pelo mesmo, a prévia propagação do Evangelho e a conversão das pessoas – do contrário, não poderia falar-se mais tarde de apostasia, que não é senão uma abjuração da Fé outrora professada, em vigor na legislação e nos hábitos das sociedades.

É o fenômeno historicamente comprovado da "maré alta" e da "maré baixa" do cristianismo, que os cristãos primitivos já podiam aventurar-se combinando com as profecias do rebanho dos mesmos lábios do Senhor sobre a expansão do Reino ao modo da semente de mostarda, que se torna o mais espaçoso dos arbustos e da última prevaricação - quando, na Sua vinda, o Filho do homem não mais encontrará fé na Terra.

A indefectibilidade da Igreja e as mesmas garantias dadas a este respeito pelo seu Divino Fundador sobre a não prevalência sobre ela das portas do inferno, fazem certamente inapropriado falar de «apostasia da Igreja». O que sim, há, e se verifica sem atenuantes é a apostasia generalizada das sociedades outrora cristãs e de uma multidão de membros da Igreja (e tão exaltados na Hierarquia), que não é de forma alguma hiperbólica falar - na medida do possível - de uma substituição demoníaca, no caminho das células malignas que proliferaram no organismo de um homem, reduzindo-o a um estado lamentável e forçando-o a exercer as funções vitais mínimas como para dar-lhe ainda por vivo. Nós sabemos pela Fé que o Senhor não deixará passar os últimos suspiros desse organismo sobrenatural e visível antes de salvar os seus, estrangeiros entre as ruínas do que antes era sua herança.

Santo Agostinho, para o resto, comentando a passagem da Segunda carta aos Tessalonicenses em que o apóstolo avisa contra aquele «filho da perdição que se opõe e se eleva contra tudo aquilo que se refere a Deus e seja objeto de culto, até chegar a sentar-se no Templo de Deus», faz uma suculenta distinção semântica pouco ajudada pelos exegetas. Concretamente, aponta como o tema original grego (no acusativo e no original), que foi posto no ablativo do latim (in Templo Dei), poderia traduzir-se com maior fidelidade no acusativo (in Templum Dei) com um significado substancialmente distinto, denotando um sentido já no local sem qualitativo

O Bispo de Hipona recorre a um exemplo claro: «dizemos, por exemplo, “reside em qualidade de amigo”(sedet in amicum), e dizer, como amigo», ou com aparência de amigo, o que, aplicado à passagem paulina, em uma exegese mais fidedigna, daria a entender que aquele formidável adversário não viria a consumar seu sacrilégio notoriamente desde fora, irrompendo violentamente o templo de Deus, mas sim uma usurpação endógena tão eficaz como para ser tido por muitos como um depositário autêntico da mais alta dignidade eclesiástica e a anti-Igreja de seus discípulos, bem como a Igreja Católica.

Santa Hidelgarda de Bingen, corroborando esta possibilidade, viu o Anticristo nascendo das entranhas da Igreja. As visões da Beata Ana Catarina Emmerich e, mais recentemente, de Bruno Cornacchiola, confirmam esta tenebrosa possibilidade, como assim também as previsões que Monsenhor Fulton Sheen sabia fazer a esse respeito. A infestação modernista da hierarquia especifica-a sem rodeios diante de nossos olhos.

O que podemos dizer àqueles que julgam exagerado falar de apostasia?

Existe uma ferramenta agrícola de uso assíduo em nossos pampas chamado espalhador de esterco. É um instrumento capaz de conter vários metros cúbicos de detritos coletados nos currais de animais, que é conduzido com um trator para espalhar uniformemente o estrume - que sai através de um bico traseiro do chassi, previsto para este fim – nos lugares de cultivo, para fertilizar a terra. Pois bem: a mando da apostasia galopante, a Barca de Pedro tornou-se um instrumento autêntico e obsequioso, oferecendo uma infatigável dispersão de detritos à visão atônita daqueles que ainda conservam um remanescente da consciência católica.

Você terá reparado, como eu, em suas retinas, os selos comemorativos da hecatombe protestante emitidos há pouco mais de uma semana pelo próprio Estado do Vaticano, com a representação de Cristo na cruz e Lutero e Melanchton a seus pés tomando o lugar da Santíssima Virgem e São João.

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Quase ao mesmo tempo, em Siracusa, Sicília, se convocava a umas jornadas de encentro maçônico-católico, com a participação confirmada de um Bispo e um Cardeal, e um cartaz impresso para a ocasião se serviu reproduzir a imagem de um Cristo segurando o compasso de três pontas pelo mundo.

A mesma eficácia com a qual dissolvem a disciplina dos sacramentos e a teologia da graça em uma nota de rodapé de um documento oficial é aquilo que eles usam na linguagem dos gestos, mais acessíveis às massas: uma nova Bíblia pauperum com orientação de escândalo. Assim, aquele que tira o fanón e a mozeta em troca de paramentos mais proporcionais ao seu gênio, como o habitual nariz de um palhaço, recebidos por aqueles mesmos dias entre os abraços do sheik Ahmed al Tayyeb, o grande imã de Al Azhar, Egito, que falou repetidas vezes para "crucificar os infiéis" e sabia como blasfemar contra a Santa Mãe de Deus, afirmando que Muhammad a tem no seu harém.

Se trata, como você vai notar, de uma lista de fatos e sinais de uma fatura muito recente coletada sem a menor exaustividade, e isso envolve a Hierarquia até o seu vértice. Se quisermos revisar aqueles que se multiplicaram no término destes últimos anos, não mais, preencheremos uma multidão de páginas dignas de terror: recepção oficial e festiva à sodomitas e demais pecadores público e notório no mesmo Vaticano, mesmo pagando a viagem de uma equipe de lésbicas - uma delas vestida com um bigode grotesco, produto de tratamento hormonal agressivo - para receber a Bênção apostólica; a entronização da estátua de Lutero na Santa Sé, não sem os condignos louvores ao odioso heresiarca Saxão; genuflexões que Bergoglio pratica apenas diante dos presos muçulmanos escolhidos para lavagem dos pés da Quinta-feira Santa, nunca jamais diante do Santíssimo Sacramento.

O aluguel da Capela Sistina para uma festa da empresa automotiva Porsche não faltou, nem a realização de um congresso estético de ginecologia no Instituto Agostiniano Patrístico, em Roma, com a subsequente visita dos participantes aos jardins do Vaticano. Vamos citar a multidão de declarações ofensivas contra a fé, a exibição de crucifixos sacrílegos, a escárnio e a punição sistemática daqueles que, desde o Sacerdócio, se opõem à deriva revolucionária no acre vigor?: a este respeito, só caberia acrescentar um longo e tedioso eteceteras. Quem pode ser exagerado para falar de apostasia em um contexto tão descarado e eloquente? Que outra evidência é necessária para concordar com o óbvio?

Está fora de dúvida a gravidade do fato da apostasia e as graves consequências que apresenta às almas ...

Isso é certo, é um ataque aprofundado ao princípio insubstituível da autoridade, a constituição divina da Igreja, um ataque no cerne da vida espiritual, bem como uma grande hipoteca sobre as almas para seu destino final. Não importa o quão lisonjeiro possa ser para as consciências moldadas pelos múltiplos laços que esta seita estabeleceu (permitamos, genericamente, chamar isso de seu caráter discriminatório, separado da unidade desejada por Deus), a substituição do princípio eterno de « conformidade do pensamento com a coisa » (adaequatio intellectus ad rem) pela «conformidade do pensamento consigo mesmo», que é a sua caricatura sartreana, não deixa de ser estéril e falso, como o solipsismo sempre será.

A "autenticidade" da crisálida que pregoa isso ignora a eterna lição de Delphi: a consciência dos próprios limites. Há um Autor da natureza que coloca seus limites para as coisas e que, pelo mesmo motivo, é o Supremo Legislador e Juiz: se o último parâmetro nunca pode ser o próprio sujeito (já que este ingressa apenas no circuito das causas segundas, e tudo quanto somos e temos Ele está envolvido), Vazio será sustentar essa autarquia duvidosa, voluntariamente cega aos dados de sua dependência onática.

Se esquece que o demônio usa sempre os mesmos argumentos, idênticas persuasões, e que o «sereis como deuses» continua a ser sussurrado nas dobras mais íntimas de cada um. São os rugidos do leão gatuno que os incautos assumem como tantas melodias. A apostasia, sem dúvidas é o pior dos pecados, É a maior das mordidas que é concedida ao inimigo incansável.

Poderia citar alguma passagem da Sagrada Escritura que aluda expressamente á apostasia?

Sua gravidade é suficientemente testemunhada em várias passagens da Epístola aos Hebreus, onde somos exortados: «Tendes cuidado, irmãos, que não haja entre vós um coração tão mal e incrédulo que se afaste do Deus vivo»; «que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado»; «é impossível, de fato, para aqueles que foram iluminados, que gostavam do dom celestial, que foram feitos participantes do Espírito Santo, que saborearam a doçura da Palavra de Deus e as maravilhas do mundo vindouro e que apesar de tudo recaíram, renovarem-se uma segunda vez pela penitência, porque eles novamente crucificam o Filho de Deus e declaram-no infame »; «porque se pecamos deliberadamente depois de haver recebido o conhecimento da verdade, já não haverá sacrifício algum pelos pecados, senão uma expectativa terrível e a queima vingativa do fogo que consumirá os rebeldes ».

Vale tanto para as sociedades como para as almas descristianizadas aquela terrível lição que nos anunciou o Senhor: os seus fins serão piores do que os seus começos. Pois o tempo, que é a ocasião que falta nos anjos caídos, é manchado em toda sua extensão pela alma do apóstata, que já não executa atos sobrenaturalmente meritórios, mesmo que ele possa trabalhar um ou vários bens parciais.

Assim, de nada serve ao filantropo suas dedicações altruístas: Prometeo não figura no catálogo dos santos. O apóstata, além dessa dissociação do ato e do mérito, tenta tirar de Deus o poder de julgar, arrogantemente atraindo o julgamento final sobre si mesmo (exemplos disto Lutero e Judas: o primeiro pela presunção de salvar-se sem esforço, o segundo pela desesperação de salvar-se). o apóstata prevê nesta vida (a não ser dado o milagre moral de sua conversão, mais surpreendente que a passagem de um camelo através do buraco de uma agulha) a irrevogabilidade da vontade dos réprobos apenas cruzando o limiar da morte.

Fonte: http://adelantelafe.com/evidencias-la-apostasia-actual

Enviado pelo amigo Vitor Hugo