Padre José Tissot: Por que os Santos se consideravam grandes pecadores

 

18.09.2018 -

n/d

Lemos nas vidas dos santos que eles se consideravam como grandes pecadores. Alguns não compreendiam como Deus os deixava viver neste mundo, como lhes concedia a luz do sol e os bens da terra. Entre eles alguns havia que costumavam firmar as suas cartas com a assinatura: “Fulano, o pecador”. São João Batista, intimado a batizar a Jesus, disse que nem era digno de lhe desatar as correias dos sapatos. Por outro lado, há tantos homens mundanos que se julgam isentos de toda culpa e imperfeição moral.

Por que esta diferença? Será que os Santos eram de fato tão grandes pecadores, e que certas outras pessoas se dizem prodígios de virtude e santidade?

Reparemos o que acontece quando uma réstia de sol penetra num quarto escuro, formando uma faixa luminosa no ar. É interessante observar como neste traço de luz volita uma infinidade de átomos de pó, subindo, descendo, girando, redemoinhando, enovelando-se de mil maneiras com o discreto perpassar das aragens. Apaga-se o raio solar – e tudo desapareceu! Já não se vê nem um só destes grânulos de poeira. Aonde foram? Não existem mais? Certo que sim. Ainda se acham suspensos no ambiente como antes. Mas, com a extinção da luz, tornaram-se invisíveis.

É fácil atinar com o sentido da comparação.

Este último estado corresponde ao da alma que se julga isenta de faltas, quando de fato as faltas aí estão, embora invisíveis, devido à ausência de luzes celestes, à falta de conhecimento próprio. O pecador não gosta de olhar para o interior da sua consciência, com medo de encontrar o que possa melindrar o seu amor-próprio e a vã complacência das supostas virtudes.

A alma do Santo, ao invés disso, é como um templo arraiado de luz, iluminado pelo facho da atenta reflexão sobre si mesma, e pelos raios vindos de cima. Não que ele tenha mais pecados do que o mundano. A diferença está em que tem luz mais abundante e o olhar mais afeito a descobrir os argueiros das imperfeições de cada dia, ao passo que o profano nem dá pelas trancas de faltas gravíssimas.

Não é, pois, nada estranhável o estarmos cheios de defeitos, desde que os tinham também os próprios Santos. No entanto, neles se observava uma nota característica e essencial. Muito embora enxergassem em suas almas inundadas de luz celestial os numerosos e até os menores resquícios de pó, eles não se admiravam e não desanimavam. À força de um trabalho contínuo, sereno e permanente, procuravam limpar-se de todas as manchas e ainda dos grãozinhos miúdos de areia e pó. Pediam a Deus constantemente lhes desvendasse os próprios defeitos para se emendarem e se humilharem. E de fato, ao dar-nos Deus a conhecer as nossas faltas, já significa uma graça bem importante. E Deus no-la dá não a fim de nos exacerbarmos e amofinarmos, mas para que reconheçamos humildemente a nossa extrema fraqueza, a nossa mísera condição e, dominados de uma grande e imperturbável confiança e calma, trabalhemos em nosso constante aperfeiçoamento, tarefa para muitos anos.

Por Pe. José Tissot  -  via capelasantoagostinho.com