Após massacre de centenas, islamitas voltam às ruas no Egito

 

Manifestantes desafiam emergência e queimam prédio do governo no Cairo.
Comunidade internacional condenou repressão policial no país dividido.

 

Do G1, em São Paulo

Homens choram à beira dos corpos de familiares mortos nos conflitos da véspera no Cairo. Ao lado de diversas outras vítimas, os corpos foram reunidos na mesquita El-Iman, no bairro de Nasr (Foto: Khalil Hamra/AP)Homens choram à beira dos corpos de familiares mortos nos conflitos da véspera no Cairo (Foto: Khalil Hamra/AP)

Manifestantes islamitas voltaram às ruas do Cairo e de Alexandria nesta quinta-feira (15), um dia após a violenta dispersão dos acampamentos de manifestantes no Cairo ter deixado pelo menos 525 mortos, 482 deles civis.

Militantes da Irmandade Muçulmana atacaram e incendiaram um prédio do governo no Cairo, segundo testemunhas. Centenas também foram às ruas de Alexandria, desafiando o estado de emergência adotado na véspera.

 

A quarta-feira foi o dia mais violento desde a revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak do poder, no início de 2011.

De acordo com o porta-voz, 137 pessoas morreram na praça Rabaa al-Adawiya do Cairo, principal área ocupada pelos manifestantes que exigiam o retorno ao poder do presidente islamita destituído em 3 de julho pelo exército.

Em outra praça, Al-Nahda, um pouco menor e também ocupada há um mês e meios pelos partidários de Morsi, 57 pessoas morreram na quarta-feira.


As duas praças foram invadidas e violentamente desalojadas na quarta-feira pelas forças de segurança e pelo exército.As outras 227 mortes aconteceram no restante do país, segundo a mesma fonte.

Após os confrontos, o exército instaurou estado de emergência durante um mês no país, com um toque de recolher no Cairo e em metade do Egito, das 19h (14h0 de Brasília) às 6h (1h).

O governo do Egito anunciou ainda o fechamento por tempo indeterminado da passagem de fronteira com o território palestino da Faixa de Gaza.

Centenas de trabalhadores palestinos atravessam todos os dias a passagem de Rafah, na península do Sinai.

Turquia sugere ida ao Conselho de Segurança
A decisão de dissolver à força as concentrações da Irmandade desafiou os apelos ocidentais por moderação e por uma solução negociada na crise política egípcia. Muitos países --mas não todos-- condenaram imediatamente o fato.

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, propôs na quinta-feira que o Conselho de Segurança da ONU reúna-se rapidamente para tomar uma providência contra o governo egípcio.

Já os Emirados Árabes Unidos, um dos vários países árabes que ficaram incomodados com a vitória de Mursi na eleição presidencial de 2012, manifestaram apoio à ação das forças oficiais, elogiando o fato de o governo ter "exercido o máximo autocontrole".

No local onde ficava um dos acampamentos, garis recolhiam nesta quinta-feira os restos ainda fumegantes das barracas, e soldados desmontavam o palanque que havia no meio do terreno. Um veículo blindado queimado estava abandonado no meio da rua.

A Irmandade Muçulmana disse que o número de mortos foi bem superior, sendo que um porta-voz chegou a falar em 3.000. É impossível verificar de forma independente a dimensão da violência.

Estado de emergência
O estado de emergência e o toque de recolher devolvem ao Exército poderes de prender suspeitos indefinidamente, algo que vigorou durante décadas no Egito até a rebelião popular que derrubou o ditador Mubarak, em 2011.

O Exército diz não desejar manter o poder, e argumenta que interveio para destituir Morsi em julho atendendo ao forte clamor popular pela renúncia dele.

O governo provisório instalado depois disso prometeu realizar novas eleições em cerca de seis meses, mas os esforços para restaurar a democracia no Egito estão sendo ofuscados por uma crise política que polarizou o país entre grupos pró e anti-Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente na história egípcia.

O vice-presidente Mohamed ElBaradei, ganhador do Nobel da Paz em 2005 e principal nome liberal no governo provisório, renunciou em protesto contra a violência.

Morsi ainda preso
Autoridades judiciais do Egito estenderam por 30 dias a detenção de Morsi, informou a agência estatal de notícia egípcia nesta quinta-feira.

Morsi está sendo mantido em um local não revelado sob acusações de assassinato e espionagem.

 
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