Ato no Rio tem 29 detidos e atuação da PM será alvo de inquérito

 

Coordenador de Delegacias quer investigar suposto abuso de autoridade.
Na Rocinha, protesto pelo desaparecimento de Amarildo não teve confronto.

 

Do G1 Rio


Protesto em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, tem conflito (Foto: Urbano Erbiste / Agência O Globo)Protesto em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, teve conflito no início da noite desta quarta-feira (Foto: Urbano Erbiste / Agência O Globo)
 

 

O protesto contra o governador Sérgio Cabral, que começou nesta quarta-feira (14) nos arredores do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, e poderia ter acabado na 9ª DP (Catete), onde um grupo pedia a libertação de 29 manifestantes detidos, deve se arrastar pelos próximos dias na justiça. Isto porque o Coordenador das Delegacias da Capital, delegado Ricardo Dominguez, pediu a instauração de um inquérito para investigar suposto abuso de autoridade de policiais militares em frente à delegacia, onde uma bomba quebrou a porta de vidro do local — horas após o ato ser dispersado, também com bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. "Infelizmente, as manifestações acontecem e vem a violência da polícia", disse ele ao G1, confirmando que todos ativistas foram liberados da delegacia. Outras dezenas, porém, ficaram feridas e foram atendidas por médicos voluntários.

O ato marcado para a Praça São Salvador, reduto boêmio de Laranjeiras, Zona Sul do Rio, reuniu centenas de pessoas que planejavam pedir a saída do governador em frente à sede do governo, a poucos metros dali. Barreiras policias nas ruas que dão acesso à Rua Pinheiro Machado, onde fica o palácio, no entanto, frustraram a intenção dos ativistas. O confronto começou justamente quando um grupo aproveitou uma brecha dada pelos PMs para a passagem de um veículo em uma das ruas próximas à sede. Mascarados correram para furar o bloqueio, mas foram reprimidos. Houve empurra-empurra e eles revidaram com pedras. A PM respondeu com spray de pimenta e balas de borracha.

Agência do Banco Santander, em Laranjeiras, teve as portas destruídas (Foto: Henrique Coelho/G1)Agência do Banco Santander, em Laranjeiras, teve
as portas destruídas (Foto: Henrique Coelho/G1)

O grupo dispersou — deixando um rastro de bancos e pontos de ônibus depredados — e voltou a se agrupar no Largo do Machado, onde começou a caminhada até a delegacia do Catete para pedir a liberação dos detidos. Ao menos 29 pessoas foram conduzidas à DP.

Em frente ao local, houve novo tumulto. Policiais do Batalhão de Choque tentaram deter um dos manifestantes que pedia, justamente, a liberdade dos jovens. Um cordão de isolamento foi feito pelo grupo e desfeito pela polícia com novas bombas.

Na confusão, a porta de entrada da delegacia chegou a ser destruída por um artefato explosivo que teria sido jogado por um policial. O advogado Rodrigo Mondego, que intercedia a favor dos detidos, também se disse vítima da ação policial. Ele chegou a afirmar que foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo. Ao fim da confusão, o delegado Ricardo Dominguez disse que vai intimar o comandante da operação para explicar a atuação da polícia militar.
"Pedi inclusive para que retirassem o Choque daqui porque a presença deles estava causando confusão", explicou o delegado.

Vanessa Martins, de 28 anos, é estudante de direito e alegou ter sido agredida por um policial enquanto tentava impedir outra agressão. Logo após o ocorrido, ela foi até a 9ª DP para emitir um boletim de ocorrência. "Ele veio me bater. Quando ele veio me bater com o cacetete, eu segurei. Já fiz o boletim de ocorrência por agressão e depois farei o exame de corpo de delito", explicou Vanessa. "Tive alguns hematomas, mas ainda não estou sentindo dor direito", afirma ela.

Trabalhadores das redondezas também sofreram com a ação da polícia. O taxista Paulo Roberto de Souza, que fazia um lanche na padaria Santo Amaro, contou que o gás lacrimogêneo das bombas lançadas pela polícia invadiu o local. "Aí foi correria, confusão, muita tosse e olhos ardendo. Em 35 anos como taxista, nunca vi isso", afirma ele.

Rio protesto Amarildo Rocinha (Foto: Lívia Torres/ G1)Na Rocinha, Zona Sul do Rio, protesto foi pacífico do
início ao fim (Foto: Lívia Torres/ G1)

Manifestação na Rocinha
O ato na Rocinha, na Zona Sul do Rio, que marcou nesta quarta-feira (14) um mês do desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo estava marcado para 18h e começou às 19h. Os manifestantes se reuniram na Autoestrada Lagoa-Barra que ficou fechada por 2h30.

Com camisetas, velas e cartazes, a família e os amigos de Amarildo pediam, de forma pacífica, uma explicação sobre o que de fato aconteceu no dia 14 de julho, quando o auxiliar de pedreiro entrou na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha e não foi mais visto na comunidade.

“Os policiais desapareceram o meu marido. A pergunta é: onde ele está? Não tem resposta até agora. Já se passou um mês”, disse Elizabeth Gomes, mulher de Amarildo.

De acordo com a Polícia Militar, cerca de 100 manifestantes participaram do ato. O trânsito deu um nó na região e os carros foram orientados e fazer contramão para escoar o tráfego que estava parado no Túnel Zuzu Angel e na Autoestrada Lagoa Barra. Por volta das 21h40 a via foi liberada
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