Líder supremo do Irã convoca mundo islâmico a fornecer armas para os palestinos

 

Aiatolá Ali Khamenei qualificou ataques de Israel em Gaza como genocídio

POR O GLOBO / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS


O aiatolá Ali Khamenei conduz uma reza na grande mesquita do Imã Khomeini, em Teerã - Site do escritório do líder supremo do Irã / AP

TEERÃ — O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, chamou nesta terça-feira Israel de "cão raivoso" por seus ataques em Gaza, e exortou os muçulmanos a armar palestinos para capacitá-los para combater o que ele qualificou como genocídio.

— Este cão raivoso, este lobo voraz, tem atacado pessoas inocentes e a humanidade deve apresentar uma reação. Isto é um genocídio, uma catástrofe de escala histórica — afirmou Khamenei, em um discurso para marcar o fim do Ramadã.

Khamenei criticou os Estados Unidos e os países europeu por seus "esforços para limitar a capacidade militar dos combatentes palestinos no enclave".

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O líder iraniano denunciou o que ele disse ter sido uma decisão do presidente dos EUA, Barack Obama, de desarmar os palestinos, em uma aparente referência à oposição dos Estados Unidos aos esforços do Hamas, o grupo islâmico que controla Gaza, para a obtenção de armas, como mísseis e foguetes. Khamenei disse que o Irã tomou a posição contrária sobre armar os palestinos.

— Todo mundo que tenha os meios, especialmente no mundo islâmico, deve fazer o que puder para armar a nação palestina. O regime sionista lamenta profundamente o início desta guerra, mas não tem saída — acrescentou.

O discurso de Khamenei a uma multidão de centenas de milhares em Teerã foi transmitido ao vivo pela televisão estatal.

NOVOS ATAQUES NESTA TERÇA

Os ataques de Israel contra a Faixa de Gaza mataram 26 palestinos nas primeiras horas desta terça-feira, incluindo nove mulheres e quatro crianças, após uma segunda-feira particularmente sangrenta no conflito com o Hamas. Em 21 dias, a ofensiva de Israel matou 1.113 palestinos, 70% civis, e deixou cerca de 6.200 feridos.

 

O prédio que abriga a TV Al-Aqsa do Hamas e outros escritórios de mídia foi alvo de um ataque aéreo de Israel em Gaza - SUHAIB SALEM / REUTERS

 

— Sete pessoas, sendo cinco mulheres e uma criança, foram mortas em um bombardeio que destruiu um prédio de três andares em Rafah, no sul da Faixa de Gaza — informou nesta terça-feira Ashraf al-Qudra, porta-voz dos serviços de emergência.

No campo de refugiados de Bureij, no centro da Faixa de Gaza, disparos da artilharia de Israel mataram mais 11 palestinos, incluindo três crianças e duas mulheres, e outras 15 pessoas ficaram feridas na manhã desta terça-feira. Segundo Al-Qudra, que não precisou onde ocorreram as mortes, 26 palestinos, incluindo nove mulheres e quatro crianças, morreram vítimas dos disparos de artilharia contra Rafah e dos ataques aéreos contra Bureij.

A aviação israelense também bombardeou na manhã desta terça-feira a casa de Ismail Haniyeh, líder do Hamas na Faixa de Gaza, situada no campo de refugiados de Shatti, no noroeste do território palestino.

— O inimigo israelense bombardeou nossa casa em dois ataques — disse Abed Salam Haniyeh, filho do dirigente do Hamas.

Nesta terça-feira, o Exército de Israel admitiu a morte de cinco soldados em combates com um comando palestino que tentava se infiltrar em Israel por um dos vários túneis que cortam a região, na zona de fronteira com a Faixa de Gaza.

"Os soldados de infantaria Daniel Kedmi, 18 anos, Barkey Ishai Shor, 21, Sagi Erez, 19, e Dor Dery, 18, foram mortos nesta tentativa de ataque", revelou o Exército em comunicado, acrescentando que um quinto militar também morreu na ação.

SEGUNDA-FEIRA SANGRENTA

Israel e o Hamas retomaram os combates na segunda-feira, quando 47 corpos deram entrada nos necrotérios de Gaza: 31 palestinos mortos nos bombardeios e 12 retirados de escombros. Outros quatro palestinos morreram no hospital depois de terem sido resgatos dos escombros.

No início da noite de segunda-feira, cinco combatentes palestinos, que tinham se infiltrado no sul de Israel, foram mortos nas imediações do kibutz de Nahal Oz, perto da fronteira. O Hamas reivindicou a autoria de uma operação na área afirmando ter matado mais de dez soldados.

Na noite de segunda-feira, uma autoridade israelense informou a morte de quatro militares tripulantes de tanque, atingidos por um tiro de morteiro ao longo da fronteira com o enclave palestino, e de um quinto soldado, que caiu nos combates em Gaza. No total, o Exército de Israel já perdeu 53 soldados, o maior número de baixas desde a guerra contra o Hezbollah libanês, em 2006.

Três civis israelenses foram mortos por disparos de foguetes da Faixa de Gaza. Ainda na segunda-feira, oito crianças e dois adultos morreram no campo de refugiados de Shatti. Ambos os lados do conflito trocam acusações, mais uma vez, sobre a responsabilidade no episódio. Segundo testemunhas, caças israelenses F-16 lançaram cinco mísseis sobre um grupo de crianças. Já o Exército de Israel garante que se trata de disparos de foguetes lançados pelo Hamas.

Palestinos recolhem rações de pães trazidas por um caminhão em uma escola primária de Jabalia, na Faixa de Gaza - MARCO LONGARI / AFP

 

Israel também intensificou seus ataques contra a cidade de Gaza, especialmente sobre o bairro da Universidade Islâmica. Por volta das 19h15m (13h15m no horário de Brasília), Israel conclamou a população civil a abandonar a periferia da cidade de Gaza imediatamente, antecipando os bombardeios.

O hospital Shifa, o maior do enclave palestino e que vinha sendo poupado da violência, foi sacudido por uma explosão, mas ninguém ficou ferido. Cinco pessoas, entre elas três crianças, morreram atingidas por disparos de artilharia que destruíram uma casa em Jabaliya; e outra criança, de quatro anos, morreu ao ser atingida por um disparo de tanque na mesma cidade. Além disso, outro palestino perdeu a vida no centro do enclave e outros quatro, em Khan Yunis.

LONGA CAMPANHA

Em um discurso transmitido pela televisão na segunda-feira, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu compatriotas que se preparem para uma campanha prolongada. A calmaria de domingo não durou muito. Com a retomada das hostilidades a celebração do feriado muçulmano de Eid al Fitrh, que marca o fim do Ramadã, foi trágica para os 1,8 milhão de habitantes da Faixa de Gaza.

— É o Eid de sangue — resumiu Abir Chamali, passando a mão sobre a terra que acabava de ser depositada sobre o corpo de seu filho de 16 anos, morto na quinta-feira perto da Cidade de Gaza.

Em três semanas, de acordo com os serviços de emergência locais, a ofensiva israelense deixou 1.104 mortos palestinos, mais de 70% civis, segundo a ONU, e por volta de 6.200 feridos na Faixa de Gaza.

Em Nova York, os 15 países-membros do Conselho de Segurança da ONU, reunidos com urgência, manifestaram em uma declaração unânime seu forte apoio a um cessar-fogo humanitário imediato e incondicional exigido por Barack Obama.

O representante palestino na ONU, Ryad Mansour, lamentou que o Conselho não tenha exigido a retirada do bloqueio imposto desde 2006 a Gaza, enquanto Israel considerou que a decisão não havia levado em consideração as necessidades de segurança de Israel.

Com base no forte apoio de sua opinião pública, Israel alega querer concluir seu plano de neutralizar os túneis em Gaza usados para a passagem de armas e combatentes, antes de qualquer trégua. O Hamas exige uma retirada israelense de Gaza e o fim do bloqueio no território controlado pelo movimento desde 2007 para discutir um cessar-fogo.