Mesmo após 15 colegas morrerem de Ebola, enfermeira segue trabalho em Serra Leoa

 

26.08.2014 -

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A melhor defesa contra o desespero era continuar trabalhando. Muitas vezes, essa escolha estava longe de óbvia: Josephine Finda Sellu perdeu 15 de suas enfermeiras para o ebola em rápida sucessão e pensou em deixar o trabalho.

Ela não o fez. Sellu, a vice-chefe de enfermagem, é uma rara sobrevivente que nunca deixou de trabalhar arduamente no hospital público daqui, a maior armadilha mortal em Serra Leoa para o vírus durante os meses sombrios de junho e julho. O clube dela é seleto, consistindo talvez de três mulheres da equipe original de enfermagem para o ebola que não contraíram o vírus e que assistiram a colegas morrerem, mas que ainda continuam trabalhando.

"Eu sou necessária aqui", disse Sellu, 42 anos, que supervisiona as enfermeiras para o ebola. "Eu sou uma veterana. Todas as novas enfermeiras olham para mim." Se ela partir, ela disse, "a coisa toda ruiria".

As outras enfermeiras a chamam de Mamãe, mas ela parece um marechal de campo em avental médico marrom claro. Ela vai avançando, exortando as enfermeiras a voltarem ao trabalho, inspecionando os alimentos para os pacientes, realizando uma dança para colegas de trabalho que contraíram o vírus e que sobreviveram –"enfermeiras sobreviventes", ela as chama com entusiasmo– e dando ordens de dentro do traje da cabeça aos pés que a protege de seus pacientes.

Na campanha contra o vírus ebola, que está varrendo partes do Oeste da África em uma epidemia pior do que todos os surtos anteriores da doença somados, a linha de frente é costurada por pessoas como Sellu: médicos e enfermeiros que dão suas vidas para tratar pacientes que provavelmente morrerão; faxineiros que limpam as poças letais de vômito e dejetos, para que os centros de saúde em dificuldades possam permanecer abertos. Motoristas que se aventuram nas aldeias tomadas pela doença para pegar pacientes; funcionários encarregados da tarefa perigosa de impedir que outras pessoas sejam infectadas pelos cadáveres altamente contagiosos.

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O sacrifício deles é evidente pelas estatísticas. Pelos menos 129 funcionários de saúde morreram combatendo a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde. E apesar de muitos trabalhadores terem fugido, abandonando sistemas de saúde já precários, muitos novos recrutas se apresentaram voluntariamente –com frequência por pouca ou nenhuma remuneração, às vezes abandonando suas casas, comunidades e até mesmo famílias no processo.

"Se não fosse voluntário, quem faria este trabalho?", perguntou Kandeh Kamara, um dos cerca de 20 homens jovens que realizam um dos trabalhos mais sujos da campanha: encontrar e enterrar os cadáveres por todo o leste de Serra Leoa.

Quando o surto começou meses atrás, Kamara, 21 anos, foi ao centro de saúde em Kailahum e ofereceu ajuda. Quando os responsáveis pelo centro disseram que não tinham como pagá-lo, ele aceitou assim mesmo.

"Não há outras pessoas para fazer isso, então decidimos fazê-lo para ajudarmos a salvar nosso país", disse sobre si mesmo e outros homens jovens. Eles chamam a si mesmos de "os meninos de sepultamento".

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A organização Médicos Sem Fronteiras os treinou para aprenderem a vestir o equipamento de proteção e a como remover em segurança os cadáveres potencialmente infectados pelo ebola. Eles percorrem estradas de terra esburacadas por até nove horas por dia.

Ao fazerem seu trabalho, os meninos de sepultamento se tornaram párias. Muitos foram excluídos de suas comunidades por temor de que possam trazer o vírus para casa. Algumas famílias se recusam a deixá-los voltar.

Depois que Kamara começou a trabalhar, sua família disse que ele não era mais bem-vindo em sua aldeia. Seu tio, o patriarca da família, lhe disse para nunca voltar. Inicialmente, ele ficou hospedado com um amigo, mas a esposa do homem ficou com medo e também o expulsou. Sem salário por meses, ele às vezes mendigava na rua após o trabalho para conseguir dinheiro suficiente para comer. Recentemente, ele conversou com o proprietário de uma pequena loja sobre liberar espaço suficiente em uma sala nos fundos, para que ele dormisse lá.

Ele finalmente está sendo remunerado, cerca de US$ 6 por dia, e espera encontrar um quarto para alugar, provavelmente a um preço inflacionado. Alguns dos outros meninos de sepultamento tentaram alugar apartamentos, mas foram rejeitados.

"Se eu tiver uma vida longa, eu poderei voltar ao meu povo", disse Kamara. "Eu poderei dizer a eles: 'Eu estou fazendo este trabalho por vocês'. Talvez eles possam me entender."

No hospital público a poucas horas de distância de Kenema, fotos das enfermeiras mortas ainda estão coladas nas paredes deterioradas. Bilhetes para as mulheres jovens ceifadas repentinamente, como Elizabeth Lengie Koroma –"Lengie, nós te amamos, mas Deus te ama"– oferecem lembretes visuais da dor que permanece.

"Hoje três, amanhã quatro –é assim rápido", lembrou Sellu, com seu modo alegre rapidamente dando lugar à tristeza. "Nós dissemos: 'O que está acontecendo?'"

Ela acrescentou: "Você pergunta: 'Quem será o próximo?'" Ao todo, 22 funcionários do hospital morreram.

Pouca proteção

Enfermeiras e médicos daqui empregaram sua experiência no tratamento da febre de Lassa, outra doença mortal que causa sangramento. Mas o ebola é de uma ordem diferente, e eles nunca o tinham visto antes.

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Com os primeiros casos, as enfermeiras simplesmente usavam os óculos de Lassa. O ebola exige uma maior proteção à face. Elas também usavam "luvas leves", disse Sellu. Agora, ela usa dois pares de luvas de borracha grossas. As precauções iniciais inadequadas tiveram consequências fatais, mesmo para o reverenciado médico jovem que chefiava a unidade de Lassa, o dr. Sheik Umar Khan.

"Era um homem cuidadoso, sempre dizendo, 'Não faça isso, não faça aquilo'", disse Sellu. "É um mistério." Khan morreu em 29 de julho, um duro golpe à nação.

Sellu também falou sobre as enfermeiras que perdeu para o ebola. Geralmente atenta em projetar força para suas subordinadas, ela começou a chorar.

"Tem sido um pesadelo para mim", disse, com seus traços contorcendo. "Desde que a coisa toda começou, eu tenho chorado muito." Ela acrescentou: "Chegou a um ponto em que pensei em deixar este trabalho. Era demais para mim".

Fonte: UOL noticias

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Nota de www.rainamaria.com.br

Diz na Sagrada Escritura:

"E vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro tinha por nome Morte; e a região dos mortos o seguia. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras". (Apocalipse 6, 8)