Maria Valtorta, mística italiana, que teve revelações de Jesus: O Mestre Ensina

28.07.2015 - Nota de www.rainhamaria.com.br

A Igreja Católica define de forma muito clara (CIC 65, 66) que a revelação pública, oficial, está concluída e é a que vemos nos livros canônicos da Bíblia. Corresponde à fé cristã compreender gradualmente seu conteúdo.

Isso não impede que haja revelações privadas (CIC 67), que não melhoram nem completam a Revelação definitiva de Cristo, mas sim podem ajudar a vivê-la mais plenamente em uma determinada época histórica. Ou seja, pode haver livros inspirados, mas não canônicos.

O especialista François Michel Debroise nos dá uma informação muito completa sobre o tema.

Maria Valtorta, mística italiana falecida em 1961, foi um exemplo de alma extraordinária com vida extraordinária. Foi uma das 18 grandes místicas marianas. Aos 23 anos, um anarquista a espancou com uma barra de ferro, deixando-a com limitações físicas. Ficou 9 anos de cama. E uniu todas as suas dores à paixão de Jesus.

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Seu confessor, ao ver a grandeza dessa alma, pediu-lhe que escrevesse sua biografia. Tudo isso aconteceu em plena guerra mundial. Depois de escrever sua biografia, de 1943 a 1950, ela começou a receber uma série de visões, que transcreveu em 17 volumes, entre eles sua obra mais conhecida e polêmica: “O Evangelho como me foi revelado”. Em 4800 páginas, ela relata a vida de Cristo, dia a dia.

O Papa Paulo VI apoiou a leitura da obra de Maria Valtorta, assim como o Padre Pio. A Madre Teresa de Calcutá era uma leitora assídua dos seus escritos. A celebração dos 50 anos da morte de Maria Valtorta foi acompanhado por altas personalidades da Igreja.

Do ponto de vista histórico, os biblistas se surpreendem com como uma pessoa que não teve estudos possa ter um conhecimento tão detalhado.

O leitor desta narração fica preso, porque a obra o introduz nas cenas da vida de Jesus como um espectador presente. É uma narração extraordinária do ponto de vista teológico, histórico e científico. (Fonte: Aleteia)

 

O MESTRE ENSINA

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SEGUNDO DISCURSO DA MONTANHA, O DOM DA GRAÇA E AS BEM-AVENTURANÇAS

24 de maio de 1945.

"Muitos me tem perguntado, durante todos estes anos de pregação: "Mas, tu, que te dizes o Filho de Deus, dize-nos o que é o Céu, o que é o Reino, e que é Deus. Porque sobre tudo isso nós temos idéias confusas. Nós sabemos que existe o Céu, com Deus e com os Anjos. Mas de lá nunca veio ninguém para dizer-nos como ele é, e assim ele fica fechado aos justos." Perguntaram-me também o que é o Reino e o que é Deus. Eu me tenho esforçado para explicar-vos o que é o Reino e o que é Deus. Digo que me tenho esforçado, não porque me fosse difícil explicá-lo, mas porque é difícil, por um complexo de coisas, fazer-vos aceitar a verdade que se choca, no que diz respeito ao Reino, contra todo um edifício de idéias que vieram, com o correr dos séculos, e, no que diz respeito a Deus, pela sublimidade de sua Natureza. Outros ainda, me perguntaram: "Está bem. Isto é o Reino, e isto é Deus. Mas como conquistar-se este e aquele?" Também isso Eu procurei explicar-vos, incansavelmente, a saber, qual o verdadeiro espírito da Lei do Sinai. Quem consegue possuir aquele espírito, consegue possuir o Céu. Mas, para explicar-vos a Lei do Sinai, é preciso fazer ouvir o tom forte do Legislador e do seu Profeta, os quais, se prometem bênçãos aos observantes da Lei, ameaçam com tremendas penas e maldições aos desobedientes. A Epifania do Sinai foi terrível, isso se reflete em toda a Lei, se reflete em todos os séculos, se reflete em todos os espíritos.  Mas Deus não é apenas Legislador. Deus é Pai. E um Pai de imensa bondade. Talvez, e mesmo sem talvez, os vossos espíritos, enfraquecidos pelo pecado original, pelas paixões, pelos muitos egoísmos vossos e dos outros, fazendo com que os dos outros vos tornem espíritos irritados, e os vossos vos tornem espíritos fechados, não podem elevar-se à contemplação das infinitas perfeições de Deus e, menos ainda do que à de qualquer outra, à de sua bondade, porque esta é a virtude que, junto com o amor, é a que menos aparece nos mortais.

A bondade! Oh! É doce ser bons, sem ódio, sem invejas, sem soberbas! Ter olhos que só olham para amar, e mãos que se estendem em gesto de amor, e lábios que não preferem senão palavras de amor, e coração, coração principalmente, que cheio somente de amor, leva os olhos, as mãos e os lábios a fazerem atos de amor! Os mais doutos entre vós sabem de que dons Deus tinha enriquecido Adão para ele mesmo e para os seus descendentes. Até os mais ignorantes entre os filhos de Israel sabem que em nós está o espírito. Só os pobres pagãos não sabem disso, que nos temos esse hospede real, este sopro vital, esta luz celeste, que santifica e vivifica o nosso corpo. Mas os mais doutos sabem quais os dons que haviam sido dados ao homem, ao espírito do homem. Deus não fez menores doações ao espírito do que à carne e ao sangue da criatura por Ele feita com um pouco de lama e com o seu hálito. E como deu os dons naturais de beleza e integridade, de inteligência e de vontade, de capacidade de amar-se e de amar, assim deu também os dons morais, com a sujeição dos sentidos a razão, de modo que, na liberdade e no domínio de si mesmo e da própria vontade, de que Deus havia dotado Adão, não se insinuava o malvado cativeiro dos sentidos e das paixões, mas livre era o amar-se, livre o querer, livre o prazer na justiça, sem aquilo que vos torna escravos, fazendo-vos sentir o mordente deste veneno que Satanás espalhou e que vomita, levando-vos para fora do álveo límpido para os campos lamacentos, para os brejos podres, onde fermentam as febres das sensualidades carnais e morais. Porque, ficai sabendo que é sensualidade até a concupiscência por pensamento. Eles tiveram dons sobrenaturais, isto é, a Graça santificante, o destino superior, a visão de Deus.
A Graça santificante: é a vida da alma. É o que há de mais espiritual colocado em nossa alma espiritual. A Graça nos faz filhos de Deus, porque nos preserva da morte do pecado, e, quem não está morto, "vive" na casa do Pai: o Paraíso; no meu Reino o Céu.

Que é essa Graça que santifica, que dá Vida e Reino? Oh! Não useis de muitas palavras! A Graça é Amor. Portanto a Graça é Deus. É Deus, que admirando-se a Si mesmo na criatura criada perfeita, se ama, se contempla, se deseja, dá a Si mesmo o que é seu, para multiplicar isso que tem, e tornar-se feliz com essa multiplicação, e para amar-se por quantos são outros Ele mesmo. Oh! Filhos! Não priveis a Deus desse seu direito. Não roubeis de Deus essa sua posse! Não decepcioneis a Deus nesse seu desejo! Pensai que Ele age por amor. Ainda que vós não o fôsseis, Ele seria sempre Infinito, e não ficaria diminuído o seu poder. Mas Ele, ainda que seja completo em sua medida infinita, incomensurável, quer, não para Si e em Si, não o poderia porque é já o Infinito, mas pela Criação, sua criatura, Ele quer aumentar o amor por tudo que essa Criação contém de criaturas, por isso vos dá a Graça: o Amor, para que vós, em vós, o leveis a perfeição dos santos, e derrameis este tesouro, tirado do tesouro que Deus vos deu com a sua Graça e aumentado com todas as vossas obras santas, com toda a vossa vida heróica e santos, no oceano infinito onde Deus esta no Céu.

Ó divinos, divinos, divinos mananciais do Amor! Vós existis, e ao vosso ser não é dada a morte, porque sois eternos como Deus, sendo deus. Vós existireis, e ao vosso ser não se dará fim, porque, imortais como os santos espíritos, que vos nutriram, abundantemente, voltando eles para vós enriquecidos com seus próprios méritos. Vós viveis e nutris, vós viveis e enriqueceis, vós viveis e formais aquela coisa santissima que é a Comunhão dos espíritos, de Deus, Espírito Perfeitíssimo, até o do pequenino que acaba de nascer e suga pela primeira vez o leite materno. Não me critiqueis em vossos corações, ó homens doutos! Não digais: "Esse ai está doido, Esse ai é mentiroso! Porque como um doido ele está falando da Graça em nós, que estamos privados dela pela culpa. E ele mente, dizendo que já somos uma só coisa com Deus." Sim, a culpa existe; sim, a separação também existe. Mas, diante do poder do Redentor, a Culpa, separação cruel que se fez entre o Pai e seus filhos, cairá por terra, como muralha, sacudida pelo novo Sansão. Eu já a agarrei e a estou sacudindo, e ela já se está aluindo, e Satanás está tremendo de raiva, e de impotência, não podendo fazer muda contra o meu poder, e sentindo que lhe são arrebatadas tantas presas, e que vai-se tornando mais difícil arrastar o homem para o pecado. Porque, quando Eu vos tiver, por meio de Mim, levado ao meu Pai, e quando, ao filtrar-se o meu Sangue, e pela minha dor, fordes ficando limpos e fortes, tornar-se-à em vós viva, ativa e poderosa a Graça e vos sereis os triunfadores, se o quiserdes.

Deus não vos força, nem quanto ao pensamento, nem quanto à vossa santificação. Vós sois livres. Mas Deus vos dá forças. Ele vos dá a liberdade, mesmo no império de Satanás. Deveis escolher: ou submeter-vos ao jugo infernal, ou pôr asas de anjos em vossas almas. Tudo depende de vós, na companhia de Mim, vosso irmão, para guiar-vos e alimentar-vos com a comida imortal.  Como se pode conquistar a Deus e ao seu Reino por outro caminho mais suave do que o do Sinai?", assim vós dizeis. Não há outro caminho. O caminho é aquele. Contudo, devemos olhar para ele, não através da cor da ameaça, e, sim, através da cor do amor. Nós dizemos: "Ai de mim, se eu não fizer isto!", e continuar tremendo, esperando o pecado, pensando que somos incapazes de deixar de pecar. Mas, digamos:
"Feliz de mim, se eu fizer isto!", e, com um impulso de sobrenatural alegria, jubilosos lancemo-nos nos braços desta felicidade, que nasce da observância da Lei, como corola de rosa nascida duma moita de espinhos.

"Feliz de mim, se eu for pobre de espírito, porque, então, o Reino dos Céus é meu! Feliz de mim, se eu for manso, porque herdarei a Terra! Feliz de mim, se eu for capaz de chorar sem revolta, porque serei consolado! Feliz de mim, se mais do que do pão e do vinho para saciar a fome, eu tiver fome e sede de justiça. A Justiça me saciará!

Feliz de mim, se eu for misericordioso, porque será usada para comigo a divina misericórdia! Feliz de mim, se eu for puro de coração, porque Deus se inclinará para o meu coração puro, e eu o verei!

Feliz de mim, se eu tiver um espírito de paz, porque por Deus serei chamado seu filho, porque na paz está o amor, e Deus é Amor que ama a quem é semelhante a Ele!

Feliz de mim se, por fidelidade à justiça, eu for perseguido, porque, para compensar-me das perseguições terrenas, Deus, meu Pai, me dará o Reino dos Céus.

Feliz de mim, se eu for ultrajado, e mentirosamente for acusado, por saber ser teu filho, ó Deus! Disso me deve provir, não desolação, mas alegria, porque isso me iguala aos teus melhores servos, os Profetas, perseguidos por essa mesma razão; e com os quais eu creio firmemente que hei de compartilhar a mesma grande recompensa, eterna, no Céu, que é meu. Olhemos assim para o caminho da salvação. Através da alegria os santos.

"Feliz de mim, se eu for pobre de espírito":  Oh! riquezas, brasas de Satanás, a quantos delírios levais! Nos ricos e nos pobres. O rico que vive para o seu ouro: o ídolo infame do seu espírito arruinado. O pobre que vive do ódio ao rico! Porque o rico tem o ouro e, ainda que não cometa materialmente homicídio, lança suas maldições sobre os ricos, desejando-lhes toda espécie de males. Não basta deixar de fazer o mal, é necessário também não desejar fazê-lo.

Quem diz maldições rogando pragas e desejando a morte, não é muito diferente de quem mata materialmente, porque nele existe o desejo de ver morrer aquele a quem ele odeia. Em verdade, Eu vos digo que o desejo outra coisa não é senão um ato retido, como alguém que já foi concebido no ventre, mas ainda não foi expelido para fora. O desejo mau envenena e corrompe, porque dura mais tempo do que o ato violento e vai mais ao fundo do que o próprio ato. As coisas que tornam um homem rico são o ouro, entre as coisas materiais e os afetos, entre as coisas morais. Pela palavra ouro compreendem-se não só as moedas, mas também as casas, os campos, as jóias, os móveis, os rebanhos, tudo, afinal, que faz a vida materialmente rica. Nas afeições: os laços do sangue e do casamento, as amizades, as riquezas intelectuais, os cargos públicos. Como estais vendo, se para aquela primeira categoria o pobre pode dizer: "Oh! Quanto a mim, basta que eu não tenha inveja de quem possui, e já estou em meu lugar, porque eu sou pobre, e por isso aqui necessariamente colocado", com a segunda categoria também o pobre tem que tomar cuidado, porque pode, até o mais miserável dos homens, tornar-se pecaminosamente rico em espírito. Todo aquele que se afeiçoa imoderadamente a alguma coisa, peca. Vós direis: "Mas, então, devemos odiar o bem que Deus nos deu?  Se assim for, por que é que Ele manda amar o pai, a mãe, a esposa, os filhos, e diz: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo"? Fazei aqui uma distinção. Devemos amar ao pai, à mãe, à esposa, e ao próximo, mas na medida que Deus deu: "como a nós mesmos". Enquanto que Deus deve ser amado sobre todas as coisas e com todo o nosso ser. Não temos que amar a Deus como amamos aos mais queridos dos nossos próximos, à mãe, porque nos amamentou, à esposa, porque dorme sobre o nosso peito e criado os filhos: mas, sim, amar a Deus com todo o nosso ser: isto é, com toda a capacidade de amar que existe no homem: amor de filho, amor de esposo, amor de amigo e oh! não vos escandalizeis! com amor de pai. Sim, porque pelos interesses de Deus devemos ter os mesmos cuidados que um pai tem para com os seus filhos, e para os quais guarda com amor os bens e os faz aumentar, e se ocupa e se preocupa com o seu crescimento físico e cultural e com o seu bom êxito nos negócios do mundo. O amor não é um mal, nem deve tornar-se um mal. As graças que Deus nos concede não são um mal, nem devem tornar-se um mal. Elas são amor. Por amor nos foram dadas. É preciso usar com amor destas riquezas que Deus nos concede, tanto em afetos, como em bens. E, somente quem não faz delas os seus ídolos mas meio para servir em santidade a Deus, é que mostra não ter um apego pecaminoso a elas. Procura, pois, a Santa pobreza do espírito, que se despoja de tudo, para ficar mais livre, a fim de conquistar a Deus Santo, que é a Suprema Riqueza: conquistar a Deus quer dizer ter o Reino dos Céus.

"Feliz serei eu se for manso". Isto pode parecer estar em contraste com os exemplos que vemos na vida de cada dia.

Os que não são mansos é que parecem triunfar nas famílias, nas cidades, nas nações. Mas, será mesmo um verdadeiro triunfo o deles? Não. É o medo que está conservando aparentemente inclinados os subjugados pelo déspota, mas esse medo não é mais do que um véu colocado sobre a efervescência da revolta contra o tirano. Os que são iracundos e prepotentes não possuem os corações nem de seus familiares, nem dos concidadãos, nem de seus súditos. Não conquistam as inteligências e os espíritos para as suas doutrinas aqueles que são mestres do: "Eu disse, e está dito!" Eles criam apenas autodidatas, que vivem buscando e rebuscando uma chave capaz de abrir as portas fechadas de uma sabedoria e de uma ciência, que eles percebem que deve existir, e que é justamente a oposta à que lhes está sendo imposta.  Não estão levando almas para Deus aqueles sacerdotes que não se entregam à conquista dos espíritos com uma doçura cheia de paciência, humilde, amorosa, mas que mais parecem ser uns guerreiros armados, que se lançam a um assalto feroz, pelo modo como avançam com impetuosidade e intransigência contra as almas... Oh! pobres almas! Se elas fossem santas, não teriam necessidade de vós, ó sacerdotes, para chegarem à luz. Pois já a teriam consigo. Se fossem justos, não teriam necessidade de vós juízes para serem contidos pelo freio da justiça, pois já a teriam em si. Se fossem sãos, não precisariam de quem os curasse. Por isso sede mansos. Não façais que as almas fujam, espavoridas. Mas, atraí-as com amor. Porque a mansidão é amor, assim como a pobreza de espírito também o é. Se assim fordes, conquistareis a Terra, e levareis para Deus este lugar, que antes era de Satanás, porque a vossa mansidão, que, além de ser amor, é também humildade, terá vencido o ódio e a soberba, matando nos ânimos o rei abjeto da soberba e do ódio, e então, o mundo será vosso, isto é, de Deus, pois vós sereis justos, ao reconhecerdes a Deus como Senhor Absoluto das criação, ao qual há de ser dado todo louvor, e entregue tudo o que é seu.

"Feliz serei eu, se souber chorar sem revoltar-me."A dor está sobre a terra. E a dor arranca lágrimas ao homem. Antes não existia a dor. Mas o homem a colocou sobre a terra e, por uma depravação de sua inteligência, esforça-se por descobrir o modo de aumentá-la sempre, e de todos os modos. Além das doenças e das desventuras provindas de raios, de tempestades, de avalanchas, de terremotos, eis que o homem, para sofrer, mas principalmente para fazer sofrer, pois gostaríamos somente que os outros sofressem, e não nós, dos meios estudados por nós para fazer sofrer eis, então, que o homem inventa armas mortíferas sempre mais tremendas e durezas morais cada vez mais astuciosas. Quantas lágrimas o homem faz outro homem derramar, por instigação do seu rei oculto, que é Satanás! Pois bem. Em verdade, Eu vos digo que essas lágrimas não são uma diminuição, mas uma perfeição para o homem. O homem é um menino descuidado, é um despreocupado superficial, é alguém nascido de uma inteligência tardia, enquanto o pranto não o tornar adulto, reflexivo e inteligente. Somente os que choram, ou que já choraram, é que sabem amar e compreender. Amar os irmãos que também choram, compreendê-los em suas dores, ajudá-los com sua bondade, que já sabe por experiência quanto se sofre estando sozinho no pranto. E sabem amar a Deus porque compreenderam que fora de Deus tudo é dor, porque compreenderam que a dor se mitiga, se for chorada sobre o coração de Deus, porque chegaram a compreender que o choro resignado, e que não quebranto a fé, que não torna árida a oração, que não conhece o que é revolta, muda de natureza, transformando-se de dor em consolação. Sim. Os que choram amando o Senhor, serão consolados.

"Feliz serei eu, se tiver fome e sede de justiça." Desde o momento em que nasce, até o momento em que morre, o homem se inclina avidamente para o alimento. Ele abre a boca, quando nasce, para agarrar o bico do peito, abre os lábios para engolir algum sustento, numa aflição de agonia. Trabalha para se alimentar. Ele faz da terra um enorme mamilo, do qual suga insaciável para aquilo que morre. Mas, que é o homem? Um animal? Não, é um filho de Deus. Ele está aqui no exílio por poucos ou por muitos anos. Mas sua vida não termina com a mudança da sua morada. Existe uma vida na vida, assim como em uma noz existe o miolo. Não é a casca que é a noz, mas é o miolo, que está dentro dela é que é a noz. Se semeardes uma casca de noz, não nasce nada. Mas, se semeardes a casca com sua polpa, nascerá uma grande árvore. Assim é o homem. Não é a carne que se torna imortal, mas é a alma. E ela é nutrida para alcançar a imortalidade, à qual, por amor, ela depois levará a carne, na feliz ressurreição. Alimento da alma é a Sabedoria, é a Justiça. Como um liquido e um alimento, elas são absorvidas e fortalecem a alma, e quanto mais se prova delas, mais cresce a santa avidez de possuir a Sabedoria e de conhecer a Justiça. Contudo, há de chegar um dia no qual a alma, insaciável nesta santa fome, ficara saciada. Chegará esse dia. Deus se dará ao seu filho e o apertará diretamente ao seu seio, e o filho nascido para o Paraíso se saciará da Mãe admirável, que é o próprio Deus, e já não saberá mais o que é fome, mas repousará feliz sobre o seio divino. Nenhuma ciência humana iguala esta ciência divina. A curiosidade da mente pode ser satisfeita, mas a necessidade do espírito, não. Pelo contrário, na diversidade dos sabores, o espírito até sente desgosto, vira a boca para longe do amargo mamilo, preferindo passar fome a encher-se com um alimento, que não tenha vindo de Deus. Não tenhais medo, ó sequiosos, ó famintos de Deus! Sejais fiéis e sereis saciados por Aquele que vos ama.

"Feliz serei eu, se for misericordioso". Quem é entre os homens o que pode dizer: "Eu não preciso de misericórdia"? Ninguém. Pois bem, se até na Antiga Lei está dito: "Olho por olho e dente por dente" por que se não há de poder dizer na Nova assim:"Quem for misericordioso, encontrará misericórdia"? Todos precisam de perdão. Pois bem ! Não é a fórmula e a forma de um rito, figuras externas concedidos por causa da opaca mentalidade humana, não são elas que obtém o perdão. Mas é o rito interno do Amor, isto é, o rito da misericórdia. Porque, se foi imposto o sacrifício de um bode ou de um cordeiro e a oferta de algumas moedas, isto foi feito porque na base ele todo mal ainda se encontram duas raízes: a avidez e a soberba. A avidez é punida com a despesa para a aquisição da oferta; e a soberba com a evidente confissão daquele rito: "Eu celebro este sacrifício, porque pequei." Também se fez isso para percorrer os tempos e os sinais dos tempos e, no sangue que se espalha, está a figura do Sangue que vai ser derramado para cancelar os pecados dos homens.

Feliz, pois, daquele que sabe ser misericordioso para com os esfaimados, para com os nus, para com os que não tem casa, para com os miseráveis de misérias ainda maiores, que são as de possuir maus caracteres, que fazem sofrer a quem os tem e aos que com eles convivem. Tende misericórdia. Perdoai, compadecei-vos, socorrei, instruí, amparai. Não vos fecheis em uma torre de cristal, dizendo: "Eu sou puro, e não desço ao meio dos pecadores."

Não digais: "Eu sou rico e feliz e não quero ouvir falar das misérias dos outros." Tomai cuidado, porque, mais depressa do que a fumaça, que se dissipa no ar por algum forte vento, pode desvanecer-se também a vossa riqueza, a vossa saúde, o vosso bem-estar familiar.

"Feliz de mim, se eu for puro de coração."  Deus é pureza. O Paraíso é um Reino de Pureza. Nada de impuro pode entrar no Céu, onde está Deus. Por isso, se fordes impuros, não podereis entrar no Reino de Deus. Mas. Oh! Que alegria! É uma alegria antecipada, que o Pai concede aos filhos! Quem é puro já tem, desde esta terra, um começo do Céu, porque Deus se inclina para o puro, e o homem daqui da terra já vê o seu Deus. Ele não conhece o sabor dos amores humanos, mas experimenta, até ao êxtase, o sabor do amor divino, podendo dizer: "Eu estou contigo, e Tu estás em Mim, por isso eu te possuo e conheço como esposo amabilíssimo de minha alma." E, crede-o, quem possui a Deus, tem também em si mesmo mudanças substanciais inexplicáveis, pelas quais ele se torna santo, sábio, forte, e sobre seus lábios florescem palavras, e seus raios assumem poderes, que não são, não, da criatura, mas de Deus que vive nela.
Que é a vida daquele que vê a Deus? É felicidade. E quereríeis privar-vos de tão grande dom, por causa de fétidas impurezas?

"Feliz eu serei, se tiver um espírito de paz." A paz é uma das características de Deus. Deus não está senão na paz. Porque a paz é amor, enquanto que a guerra é ódio. Satanás é ódio. Deus é paz. Não pode alguém se dizer filho de Deus, e nem pode Deus dizer que é seu filho um homem, se este tiver um espírito irascível, sempre pronto a desencadear tempestades. E não somente isso. Também não pode dizer-se filho de Deus quem, ainda que ele não seja propriamente um desencadeador de tempestades, contudo, não contribui em nada, com a grande paz que tem, para acalmar as tempestades levantadas por outros. Quem é pacífico, difunde a paz, mesmo sem falar nada. Senhor de si, e ouso dizer até senhor de Deus, ele o leva como uma lâmpada leva a sua luz, como um turíbulo que vai soltando os seus perfumes, como um odre que transporta o seu líquido, e brilha a luz por entre as névoas fumegantes dos rancores, e purifica-se o ar dos miasmas das invejas, e se acalmam as ondas enfurecidas das contendas, por meio deste óleo suave, que é o espírito de paz, que emana dos filhos de Deus. Fazei por onde possam os homens chamar-vos por este nome.

"Feliz de mim, se eu for perseguido por amor da Justiça." O homem é tão endemoninhado que odeia o bem onde quer que ele se encontrei, que odeia a quem é bom, como se, por ser bom, mesmo que esteja calado, o esteja acusando e censurando. De falo a bondade de alguém faz com que apareça ainda mais preta a maldade do malvado. De falo, a fé de quem verdadeiramente crê, faz que apareça mais viva a hipocrisia do que só finge crer. E, na verdade, não pode deixar de ser odiado pelos injustos quem, com seu modo de viver, é uma testemunha constante da justiça. E, então, acontece que o mau se enfurece contra os amigos da justiça. Também aqui acontece como nas guerras. O homem progride na arte satânica de perseguir, muito mais do que progride na arte santa de amar. Mas, só pode perseguir quem tem vida curta. Pois o eterno, que existe no homem, escapa da armadilha, e até, pela perseguição, adquire uma vitalidade ainda mais vigorosa. A vida foge daquelas feridas que abrem as veias ou pelos sofrimentos que vão consumindo o perseguido. Mas o sangue faz a púrpura do futuro rei e os sofrimentos são como outros tantos degraus para subir aos tronos que o Pai preparou para os seus mártires, para os quais estão preparados os tronos régios do Reino dos Céus.

"Feliz eu serei, se for ultrajado e caluniado." Fazei somente que vosso nome possa ser escrito nos livros do Céu, nos quais não estão marcados os nomes, conforme as mentiras humanas, ao louvar aos que menos merecem louvor. Mas neles, com justiça e amor, estão escritas as obras dos bons, para dar-lhes o prêmio prometido aos benditos por Deus. Antes de nosso tempo, foram caluniados e ultrajados os Profetas. Mas, quando forem abertas as portas dos Céus, eles entrarão na Cidade de Deus, com a imponência de reis, e, diante deles, se inclinarão os Anjos, cantando cheios de alegria. E vós também, sim, e vós também, ultrajados e caluniados por terdes sido de Deus, tereis o triunfo no Céu e, quando o tempo terminar e completo estará o Paraíso, então, sim, todas as lágrimas serão por vós bem estimadas, porque por elas é que tereis conquistado esta glória eterna, que Eu, em nome do Pai, vos prometo.
Ide. Amanhã eu vos falarei ainda. Fiquem aqui agora somente os doentes para que Eu os socorra em seus sofrimentos. A paz esteja convosco, e a meditação sobre a salvação, através do amor, vos encaminhe pela estrada, cujo fim é o Céu."

(O Evangelho come me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 3 pgs,78,79,80,81,82,83,84,85,86,87,88,89)

Fonte: www.provasdaexistenciadedeus.blogspot.com.br  (do amigo Antonio Calciolari)