Artigo do Frei Clemente Rojão: Mato Mental

12.08.2015 -

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 - Sabe, frei, eu não fico lendo nem vendo estas coisas de religião e filosofia, não quero ser influenciado por nada.

- Era uma vez um fazendeiro ecologista, que tinha muito ciúme e preocupação com suas terras recém-compradas, porque eram ótimas. Ele não queria adubar, porque temia que o adubo químico estragasse a terra. Ele não queria fazer pastagens, porque pastagem judiava do solo. Ele não queria plantar café, porque café sugava a terra. Ele não queria plantar cana, porque onde dava cana não dava mais nada. Ele não queria plantar eucalipto, porque eucalipto tirava toda a água da terra. Ele não queria fazer um pomar de laranja porque formava árvores e raízes difíceis de tirar. Ele não queria fazer videiras, porque teria de colocar calcário na terra mexendo com o ph do solo. Ele nao queria milho, porque enchia a terra de resto de silagem depois da colheita. Enfim, ele tinha tanto medo de estragar a terra boa com alguma cultura que não fez nada com a terra.

- E ai?

- E ai que nasceu mato: capim, tiririca, mamona, um matão feio. Você quer se manter livre de influências da religião e filosofia, mas a sua cabeça não fica vazia. O que você não põe nela, outras coisas entram por si só. O tempo todo a TV, os amigos, as revistas, as músicas, o mundo, suas próprias ideías desordenadas estão jogando porcaria na sua cabeça, e o mato está crescendo e crescendo feio. Você tem medo do efeito colateral do eucalipto, do milho, do café, da cana, da laranja, da uva, do pasto e não vê que o pior é o mato de uma mente vazia, a verdadeira oficina do Capeta. Você tem tanto medo de se influenciar que se deixa influenciar por coisas piores e mais desordenadas ainda. Você deixou de cuidar da sua formação e está deixando que os outros te formem, ou melhor, te deformem. Não é a toa que "cultura" vem de "cultivo": Ou você planta por si só algo entre suas orelhas, ou vai crescer mato, e mato bravo.

Fonte: www.freirojao.com.br