Houve mais cristãos assassinados no século 20 que nos 19 séculos precedentes de história cristã.

Todos os números da admirável revista ecumênica “Touchstone” incluem uma seção intitulada “A Igreja que sofre”. É um título que os católicos associam ao purgatório, mas, neste caso, significa a Igreja que é purificada aqui e agora, devido à perseguição.

É uma lembrança útil de um tema desagradável. Este tema desagradável, de fato, raramente influencia a consciência dos cristãos, especialmente dos pertencentes à Igreja cômoda, tolerante, amável, ainda que a comissão histórica instituída por João Paulo II tenha mostrado claramente que os cristãos vivem atualmente o período de maior tribulação da sua história.

Esta comissão afirmou que houve mais cristãos assassinados no século 20 que nos 19 séculos precedentes de história cristã. Uma só página da “Touchstone” destacou que quase 1.200 protestantes foram presos nos campos de concentração do deserto da Eritreia, nos quais “a tortura é uma rotina”; Mustafá Bordbar, um cristão convertido, de 27 anos, foi preso e acusado de “reuniões ilegais e de ter participado de uma igreja doméstica” no Irã”; um líder muçulmano da Nigéria central sequestra regularmente meninas e mulheres cristãs, obrigando-as a converter-se ou voltar ao islã.

Durante este tempo, os cristãos temem cotidianamente pela sua vida na Síria e no Egito, duas sociedades que estão em processo de implosão e nas quais as facções e seitas muçulmanas majoritárias só concordam em uma coisa: a caça aos cristãos. Em duas décadas, talvez menos, o cristianismo poderia deixar de ser uma realidade eclesial vivente em muitos dos lugares nos quais nasceu; isso sem falar das cidades nas quais se desenvolveu o cristianismo sub-apostólico e patrístico. A única exceção a esta tendência no Oriente Médio está no norte da África e em Israel.

Tom Holland, um historiador famoso e autor de “A forja do cristianismo”, afirmou recentemente, em uma coletiva de imprensa em Londres sobre o ódio e as rivalidades sectárias no Oriente Médio, que “estamos assistindo a algo que, quanto ao horror, lembra a Guerra dos 30 anos europeia”. Na mesma coletiva, minha velha amiga e colega Nina Shea, diretora do Centro pela Liberdade Religiosa do Instituto Hudson de Washington, destacou algumas perguntas dirigidas à ignorância da mídia ocidental. Shea sublinhou que, no Egito, foi destruída recentemente uma igreja copta do século IV, dedicada a Nossa Senhora – e tal igreja estava à espera de ser declarada patrimônio mundial pela UNESCO. A igreja tinha 200 anos a mais que os Budas de Bamiyan (Afeganistão), que constavam na lista da UNESCO e cuja destruição, por parte dos talibãs, em 2001, foi amplamente comentada e universalmente divulgada; no entanto, os principais meios de comunicação trataram o ato de vandalismo religioso e cultural anticristão no Egito como se não houvesse acontecido nada.

O que é preciso fazer agora? Apoiar estas agências não governamentais que trabalham por sustentar a vida pastoral da cristandade nos lugares em que esta nasceu; pedir à diplomacia dos EUA que leve mais a sério a liberdade religiosa no Oriente Médio. E que a causa destes irmãos e irmãs em Cristo seja uma parte regular na oração litúrgica, recordando a Igreja perseguida nas intenções gerais de todas as missas, e rezando publicamente pela conversão dos perseguidores. Sim, pela sua conversão.