O cardeal Kasper defende a comunhão compartilhada de católicos e luteranos. Mas a Verdade e o erro não estão em pé de igualdade

Mas a Verdade e o erro não estão em pé de igualdade. Isso seria colocar Deus e o diabo em pé de igualdade, visto que o diabo é o pai da mentira, o pai do erro

 

18.12.2016 -

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“Espero que a próxima declaração abra o caminho para a comunhão eucarística compartilhada em casos especiais”. O cardeal Walter Kasper falou em uma entrevista sobre a recente visita papal à Suécia, e manifestou sua esperança de que o 500º aniversário da Reforma que se celebra este ano dê lugar a um documento papal autorizando a intercomunhão de católicos e protestantes.

A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 15-12-2016. A tradução é de André Langer.

Falando com L’Avvenire, o presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos afirmou que a viagem do Pontífice a Lund no final de outubro não apenas evidenciou “as conquistas dos 50 anos de diálogo católico-luterano”, mas também um desejo compartilhado de que “se deem mais passos rumo à plena comunhão”.

Estes passos logo podem se dar na forma de uma declaração conjunta sobre a Igreja, a eucaristia e o ministério, que se somariam à declaração assinada por ambas as partes em Lund sobre “os dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma”.

“Certamente, o Papa não foi a Lund para festejar, mas para confessar o pecado (compartilhado) da divisão e para celebrar que a comunhão fundamental (de um só batismo) já existia”, disse Kasper. Ali na Suécia houve, em ambas as partes, não apenas “um reconhecimento dos dons recebidos”, mas que a “celebração” se converteu em um “apelo”, um “forte apoio” e uma “oração” para que logo haja mais avanços na intercomunhão. “Por um lado, Lund confirmou o processo ecumênico e os resultados do diálogo precedente; por outro, deu-lhe um novo vigor”, disse o cardeal.

A visita de Francisco “mostra que (para ele) o ecumenismo é uma prioridade, que o compromisso ecumênico é a vontade do Senhor e do Concílio”. O cardeal elogiou em sua entrevista o empenho do Papa para integrar o diálogo “em uma situação global” e chamar todos os crentes de forma insistente “a um testemunho cristão comum e uma cooperação genuína”.

Mas também teve palavras de elogio para a perspectiva mais “terrenal” do atual Papa, já que “um diálogo ecumênico que está limitado à teologia arrisca-se a se afastar dos problemas reais dos homens e das mulheres”. É também este “empenho sobre o terreno” de Francisco, além da teologia, a partir de onde a intercomunhão pode também dar os seus frutos.

“Espero que a próxima declaração abra o caminho para a comunhão eucarística compartilhada em casos especiais, sobretudo com respeito aos casamentos e famílias mistos, o que em países como a Alemanha e os Estados Unidos representa um problema pastoral urgentíssimo”, afirmou o cardeal.

Participação plena dos católicos e protestantes na mesma missa para a qual já tem um modelo em mente: “Pessoalmente, espero que possamos usar um texto não oficial, preparado por uma comissão da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, sobre este tema”.

Embora a comunhão compartilhada seja uma prioridade tanto na perspectiva ecumênica como pastoral, Kasper é realista em relação ao processo. “Não devemos esperar milagres”, reconheceu a propósito deste 2017, o 500º aniversário da Reforma de Lutero.

“Espero que este ano sirva para consumar o caminho do conhecimento recíproco que anima o diálogo e leva à decisão de caminhar juntos para o futuro. Sabendo que o tempo, modo e lugar nos quais se chega à plena comunhão estão nas mãos de Deus”. Fonte: www.ihu.unisinos.br