Especialistas alertam para grande risco de faltar água em São Paulo

 

07.04.2014 -

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Histórico de reservatórios indica risco de racionamento no fim do ano em SP

Levantamento do histórico do nível dos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo aponta que a região corre risco de sofrer racionamento de água no fim do ano, caso as medidas de emergência planejadas pelo governo estadual não funcionem.

O R7 comparou, mês a mês, o nível médio dos cinco mananciais da região metropolitana. Foi levada em consideração a situação de cada reservatório no dia 1º de cada mês desde 2003 (veja quadro abaixo).

Os números indicam que abril e maio costumam ser a época do ano em que os reservatórios atingem seu maior patamar.

A partir de junho, a situação piora gradativamente, até os meses de novembro e dezembro. A retomada, em geral, ocorre em janeiro.

Neste ano, porém, os reservatórios atingiram nível crítico justamente no mês que antecede a estiagem de outono-inverno.

Na sábado, o Sistema Cantareira chegou a seu mais baixo nível da história, com 13% de sua capacidade. No mesmo dia do ano passado, o nível do reservatório estava em 62%.

Além do Sistema Cantareira, o Sistema Alto Tietê (com 37,2% de sua capacidade) e Alto Cotia (com 55,8%) estão também bastante abaixo da média histórica do mês (60% e 89%, respectivamente).

Volume morto e Paraíba do Sul

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Atualmente, o governo do Estado aposta em duas frentes para evitar o racionamento.

Por um lado, a Sabesp trabalha para conseguir utilizar o volume morto do sistema Cantareira (o volume morto é formado pelas águas profundas, abaixo do nível da tubulação por onde é feito o escoamento para abastecer as residências). As obras devem ser concluídas até o meio do ano.

A segunda frente do governo paulista é de longo prazo. Trata-se da proposta de interligação entre o sistema Cantareira e a bacia do rio Paraíba do Sul. O duto seria capaz de fazer com que, em época de crise, o sistema em melhor situação socorresse o sistema mais deficitário.

O projeto, porém, provocou fortes reações do governador fluminense Sérgio Cabral, pois a bacia do Paraíba é também responsável por abastecer o Rio — e a possibilidade de desviar suas águas foi malvista pelo Estado vizinho. Mas, mesmo que seja aprovada, a interligação só ficaria pronta em 2015, segundo Alckmin.

Setembro, mês decisivo

Silvio Simões, professor da Faculdade de Engenharia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Guaratinguetá, afirma que os comitês responsáveis pelas bacias do Estado têm de tomar uma decisão.

— A situação é de crise e alguma medida tem de ser tomada logo. Obviamente, a população precisa ser alertada para reduzir o consumo. Mas isso não basta.

Simões acha difícil fazer previsões sobre o que pode ocorrer até o fim do ano.

— O que eu tenho verificado é que a variabilidade do sistema tem crescido nos últimos anos. Então, a previsão é difícil, pois o comportamento não é constante.

Paulo Roberto Moraes, professor de Ciências do Ambiente da PUC-SP, considera difícil relacionar o verão seco com mudanças climáticas.

— Estamos realmente vivendo uma anomalia, um ano muito seco. Mas isso não significa que os períodos de estiagem têm sido mais frequentes. O que acontece é que o Sistema Cantareira opera no limite há tempos. O volume de água que sai, desde 2010, é maior do que o volume de água que entra. Com a seca, veio a crise.

Maria Assunção Faus da Silva Dias, do departamento de Ciências Atmosféricas da USP, afirma que, do ponto de vista climático, o mês de setembro vai ser decisivo.

— Setembro é um mês que pode ser seco ou chuvoso. Depende do ano. Caso o período chuvoso comece cedo, talvez haja um alívio na situação dos reservatórios. Mas, se as chuvas demorarem, vai ser difícil. Estamos vivendo a situação mais crítica das últimas décadas.

Fonte: R7 noticias