Tango em São Pedro enquanto a Barca vai a deriva. Ou a Igreja Titanic

04.01.2015 -

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Provavelmente os historiadores de amanhã se lembrarão que em 2014, na praça de São Pedro, dançava-se tango enquanto os cristãos eram massacrados no oriente e a Igreja estava à beira de um cisma. Essa atmosfera de leveza e de inconsciência não é nova na história. Em Cartago, recorda Salviano de Marselha, dançava-se e banqueteava-se na véspera da invasão dos Vândalos, e em São Petersburgo, de acordo com o testemunho do jornalista americano John Reed, enquanto que os bolcheviques se apoderavam do poder, os teatros e restaurantes continuavam a ficar lotados. O Senhor, como diz a Escritura, cega aqueles que ele quer perder (Jo 2, 27-41).

O principal drama do nosso tempo não é, todavia, a agressão que vem do exterior, mas esse misterioso processo de auto-demolição da Igreja que alcança suas últimas consequências, depois de ter sido denunciado pela primeira vez por Paulo VI em seu famoso discurso ao Seminário Lombardo de 7 de dezembro de 1968. A auto-demolição não é um processo fisiológico. É um mal que tem responsáveis. E os responsáveis são, nesse caso, esses homens da igreja que sonham em substituir o Corpo Místico de Cristo por um novo organismo, submisso a uma perpétua evolução sem verdades nem dogmas.

Um quadro impressionante da situação foi oferecido no fim de 2014 por dois dossiês sobre a Igreja publicados respectivamente pelo jornal diário francês Le Figaro e pelo cotidiano italiano la Repubblica.

O Le Figaro, um jornal de centro-direita, famoso por sua moderação, consagrou seu suplemento de dezembro, “Le Figaro Magazine“, à Guerra secreta no Vaticano. Como o papa Francisco agita a Igreja: 11 páginas, escritas por Jean-Marie Guénois, considerado como um dos vaticanistas mais sérios e competentes.

“Algo parece ter virado na Igreja desde o Sínodo sobre a família do outono de 2014, escreve Guénois, e o acumulo dos indícios permite se perguntar: a Igreja não corre o risco de enfrentar uma tormenta no fim de 2015, depois da segunda sessão do sínodo sobre a família?“ Guénois revela a existência de uma “guerra secreta” entre cardeais que não têm como propósito a conquista do poder. O que está em curso é uma batalha de ideias, que tem como alvo principal a doutrina da Igreja sobre a família e o matrimônio. O papa Francisco é acusado dentro da Cúria de uma gestão autocrática do poder, que o jornalista francês resume na fórmula: “Quando decide, o Papa não é delicado“, mas o verdadeiro problema é sua visão eclesial, inspirada e aconselhada pelas correntes mais progressistas do Vaticano.

De acordo com Guénois, três teólogos definem os novos objetivos: o cardeal alemão Walter Kasper, o bispo italiano Bruno Forte e o arcebispo argentino Victor Manuel Fernandez. “É este trio que atiçaram o fogo durante o sínodo sobre a família!”. Desse modo, ele considera que Kasper é o testa de ferro pela admissão dos divorciados recasados aos sacramentos, Forte é o promotor da legalização da homossexualidade e Fernández um importante expoente da teologia peronista do povo.

Guénois entrevistou em seguida o cardeal Burke sobre o Sínodo, que, como de costume, se expressou com uma clareza cristalina: “O sínodo foi uma experiência difícil. Houve uma linha, a do cardeal Kasper, poder-se-ia dizer, atrás da qual se colocaram aqueles que tinham em mãos a direção do sínodo. De fato, o documento intermediário parecia já ter sido escrito antes das intervenções dos padres sinodais! E segundo uma linha única, em favor da posição do cardeal Kasper… Também introduziram a questão homossexual, que não tem nada a ver com a questão do matrimônio, buscando aí elementos positivos. (…) Logo, foi muito desconcertante. Assim como o fato de ter mantido, no relatório final, certos parágrafos sobre a homossexualidade e sobre os divorciados recasados que não foram, todavia, adotados pela maioria requerida pelos bispos. (…) Logo, estou muito preocupado, e chamo os católicos, os leigos, sacerdotes e bispos a se comprometerem, daqui até a próxima assembleia sinodal, a fim de realçar a verdade sobre o matrimônio”.

Que as preocupações do cardeal Burke sejam justificadas o demonstra o suplemento semanal “Il Venerdì de la Repubblica” de 27 de dezembro de 2014, completamente dedicado a uma “Investigação sobre a Igreja”: 98 páginas com 20 artigos, nos quais é descrita “a nova era de Francisco, entre adversários, santos, perseguidos e pecadores”.

O protagonista do La Repubblica é o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, que confirma sua abertura aos divorciados recasados e aos pares homossexuais, nega a decadência moral do ocidente e afirma que “a pretensa secularização é um desenvolvimento necessário da liberdade. Uma sociedade livre é um progresso, segundo o verdadeiro ponto de vista do Evangelho“. Francisco, explica ele, “quer conduzir a Igreja à força original de seu testemunho. Ele tem uma visão clara do que quer, mas ele não segue um plano fixo, pessoal ou pré-determinado, nem um programa de governo. Ele lança sinais e dá exemplos, como ele fez durante o Sínodo consagrado ao matrimônio e à família“.

Dentro do dossiê, Marco Ansaldo, numa entrevista com o título “Franzoni, a vingança do antigo padre vermelho”, concede amplo espaço a Giovanni Franzoni, antigo abade da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, que insiste sobre o fato de que as posições pelas quais ele foi condenado se aproximam atualmente das do Vaticano. Franzoni foi demitido do estado clerical (em 1976) por ter dito sim à lei sobre o divórcio e o aborto, e por suas declarações de voto em favor do Partido Comunista. Casado com uma jornalista ateia japonesa, hoje ele não renega suas ideias e afirma ter “descoberto a sexualidade como enriquecimento total e não como privação de energias que poderiam ser dedicadas ao Senhor“.

De acordo com algumas indiscrições, o Papa teria a intenção de admitir ao sacerdócio alguns leigos casados (a pretensa viri probati) e de reintegrar na administração dos sacramentos padres já casados, reduzidos ao estado laico, como o próprio Franzoni ou o antigo franciscano e teólogo alter globalista Leonardo Boff, que vive atualmente no Brasil com uma companheira.

Em 17 de novembro, Boff, que passou da teologia da libertação à eco-teologia, confirmou à agência Ansa ter enviado ao Papa, a pedido dele, material para sua próxima encíclica, e, em 28 de dezembro, em polêmica com Vittorio Messori, ele expressou no “Noi siamo chiesa” seu apoio ao papa Francisco contra um escritor nostálgico, com essas palavras: “Por tudo isso, é sumamente importante uma igreja aberta como a quer Francisco de Roma. É necessário que ela esteja aberta às irrupções do Espírito, chamado por alguns teólogos “a fantasia de Deus”, por causa de sua criatividade e novidade, na sociedade, no mundo, na história dos povos, nos indivíduos, nas igrejas e também na Igreja católica. Sem o Espírito Santo, a igreja se transforma numa instituição pesada, enfadonha, forte, sem criatividade, e chega um momento em que ela não tem nada a dizer ao mundo, a não ser doutrinas, sempre mais doutrinas, que não suscitam a esperança e a alegria de viver”.

Pode-se negar a existência de uma confusão absoluta?

O tango que foi dançado em 17 de dezembro de 2014 por ocasião do aniversário do papa Francisco lembra outra música; aquela tocada no Titanic na noite da tragédia. Porém naquele tempo a ponta do iceberg surgiu de repente, enquanto que os dançarinos estavam inconscientes do desastre iminente. Hoje o iceberg é visível e há aqueles que brindam ao impossível naufrágio da Barca de Pedro.

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Todavia muitas pessoas estão alertas e têm a forte sensação, como disse o cardeal Burke, de que a Igreja seja um navio à deriva. Estamos entre eles, e por essa razão não saudamos 2015 com danças e fogos de artifício, mas com a firme intenção de acolher o apelo do próprio cardeal Burke e lutar, daqui até o próximo Sínodo, e além, a fim de defender a verdade do Evangelho sobre o matrimônio.

Fonte: Roberto de Mattei – Il Foglio / Tradução: Dominus Est  e  www.rainhamaria.com.br

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Lembrando o artigo publicado em 01.11.2014

Cardeal Burke declara: A Igreja parece um navio sem leme

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Depois de ter denunciado manipulações e "censuras" no Sínodo, o cardeal Raymond Leo Burke, (foto) prefeito da Signatura Apostólica, continua elevando a sua voz a tons cada vez mais preocupados, criticando o papa, mas dizendo, ao mesmo tempo, que não quer "parecer como uma voz contrária ao papa". A última entrevista foi a realizada por Darío Menor Torres, publicada hoje na revista Vida Nueva.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 31-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

    "Muitos me manifestaram preocupação", afirma o cardeal norte-americano. "Em um momento tão crítico, em que há uma forte sensação de que a Igreja é como um navio sem leme, não importa por qual motivo, mais importante do que nunca é estudar a nossa fé, ter um guia espiritual sadio e dar um forte testemunho da fé."

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    "Tenho todo o respeito pelo ministério petrino – acrescenta Burke – e não quero parecer que sou uma voz contrária ao papa. Gostaria de ser um mestre da fé com todas as minhas fraquezas, dizendo a verdade que hoje muitos de nós percebem. Sofrem um pouco de enjôo, porque, segundo eles, o navio da Igreja perdeu a bússola.

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É preciso pôr de lado a causa dessa desorientação, porque não perdemos a bússola. Temos a constante tradição da Igreja, os ensinamentos, a liturgia, a moral. O catecismo não muda."

    "O papa, justamente, fala da necessidade de ir para as periferias", continua o prefeito da Signatura Apostólica. "A resposta das pessoas foi muito calorosa. Mas não podemos ir para as periferias de mãos vazias. Vamos com a Palavra de Deus, com os sacramentos, com a vida virtuosa do Espírito Santo. Não estou dizendo que o papa faça isso, mas há o risco de interpretar mal o encontro com a cultura. A fé não pode se adequar à cultura, mas deve chamá-la novamente à conversão. Somos um movimento contracultural, não popular."

Fonte: /www.sinaisdoreino.com.br  -  imagens  www.rainhamaria.com.br

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Nota final de www.rainhamaria.com.br

SEMPRE LEMBRANDO AS PALAVRAS DE UM SANTO.

Declarou o Santo Papa João Paulo II, em 7 de fevereiro de 1981.

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“Devemos admitir realisticamente  e com sentimentos de profunda dor que os cristãos hoje em dia em grande medida se sentem perdidos, confusos, perplexos e até mesmo decepcionados; idéias opostas à verdade revelada e sempre ensinada estão sendo espalhadas em abundância no exterior; heresias, no sentido pleno e próprio da palavra, foram espalhadas na área de dogma e moral, criando dúvidas, confusões e rebelião; a liturgia foi adulterada. Os cristãos são tentados pelo ateísmo, agnosticismo e pelo cristianismo sociológico destituído de dogmas definidos ou uma moralidade objetiva".

 

Disse Dom Lourenço Fleichman: Pode a Igreja Morrer?

Levemos, pois, essa comparação à vida da Igreja. Como dissemos, há 50 anos que a Igreja é flagelada, desfigurada, cuspida, pregada a uma dura Cruz, que foi apagando dela toda beleza, ou seja, toda manifestação da sua seiva divina, da sua santidade, do seu sacerdócio, dos seus Sacramentos. Tudo isso foi demolido, vilipendiado, rebaixado e dessacralizado. A Paixão da Igreja nos mostra a Esposa de Cristo nua como Cristo na Cruz. Seus sacramentos já não são integralmente católicos, a pregação dos padres já não converte ninguém, a vida sacerdotal e religiosa está muito longe da santidade, e tudo se resume num amálgama rasteiro e sem vida sobrenatural.

Nesse momento, a morte da Igreja poderia advir pelo extermínio do sopro de vida humana que ainda lhe restaria. Cristo morreu assim, a Igreja pode, muito bem, morrer também. No momento em que a vida divina já não aparece mais, basta cessar a vida natural e humana, e a Igreja já não viveria mais.

Ora, me parece que a obra do papa Francisco consiste em tirar do resto de vida que ainda restava na Igreja, seu sopro natural. Levantou-se este estranho papa contra tudo o que é natural, as únicas coisas que ainda restavam na pregação dos seus predecessores.

Sobre o aborto, ele afirmou que não devemos mais tratar desse assunto;

Sobre o adultério, ele afirmou que não se deve mais imputar o pecado, podendo comungar os divorciados que vivem em novo casamento.

Sobre a família, ele afirmou, ao aplaudir o discurso do Cardeal Kasper, que é preciso aceitar essa nova família do mundo moderno, regida pelo divórcio.

Sobre os graves pecados contra a natureza, ele induziu a sua prática ao afirmar que um padre não pode julgar o pecado de homossexualidade.

O que restava de vida natural na Igreja está desaparecendo. E não restará mais nada.

 

Diz na Sagrada Escritura:

"Nós, porém, sentimo-nos na obrigação de incessantemente dar graças a Deus a respeito de vós, irmãos queridos de Deus, porque desde o princípio vos escolheu Deus para vos dar a salvação, pela santificação do Espírito e pela fé na verdade. E pelo anúncio do nosso Evangelho vos chamou para tomardes parte na glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa.
Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu consolação eterna e boa esperança pela sua graça, consolem os vossos corações e os confirmem para toda boa obra e palavra!" (II Tessalonicenses, 2, 10 -16)