Sinal dos Tempos: Menino de rua dorme em cama improvisada em bairro nobre de São Paulo

15.01.2015 -

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SÃO PAULO - São dez horas da manhã, o sol está forte, e o menino ainda não se levantou da cama. Abre a boca de sono, se espreguiça e continua enrolado no lençol. Cumprimenta algumas pessoas que passam pela “porta do quarto” e que o chamam pelo nome. A cena parece comum, mas transcorre em plena calçada de um dos bairros mais nobres de São Paulo, o Higienópolis, bem ao lado do shopping. O menino é G., de 14 anos, que há seis meses foge sistematicamente e é levado de volta para casa, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, a 530 quilômetros

Em um dia de julho do ano passado, Dulce Santucci, de 80 anos, saiu de casa, olhou para cima e viu um menino dormindo em um colchão equilibrado entre os galhos de uma árvore. Era a primeira vez de G. naquele bairro, ao qual chegou sem explicação e foi se apegando. Ele virou, para a vizinhança e para a imprensa, o “menino passarinho”, que sempre voltava para a mesma calçada, após ser levado para a casa da mãe ou para abrigos públicos.

Cama achada em caçamba

G. deixou a árvore para morar numa caixa de papelão, e depois, numa barraca de camping. Mal o ano começou, e lá estava G. em Higienópolis de novo. Achou uma cama de casal numa caçamba e a arrastou por mais de dois quarteirões, até colocá-la sob a mesma árvore.

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Carismático, G. chama a maior parte das pessoas de “tio” e “tia” e pede para ser adotado. Não sabe explicar por que foge. Sobre Higienópolis, diz que gosta dali. Ele não sabe ler nem escrever e apresenta sinais de problemas psicológicos. No bairro, G. atrai o carinho e a fúria de moradores.

Dona Dulce é uma das amigas do menino e se ressente com moradores que já sugeriram que o menino causa “poluição visual”.

— Gostaria de ficar com ele, mas tenho 80 anos. Nem seria permitido adotá-lo. Mas não entendo isso de “diferenciado”. Como se pode ser diferenciado se a morte é tão igual para todos? — afirma dona Dulce, em referência à forma como Higienópolis é conhecido: bairro de “gente diferenciada”.

Outra vizinha, a terapeuta Luciana Sodré Cardoso, juntou-se a outros três moradores e, por dois meses, abrigou G. de forma compartilhada. Mas ele não se adaptou ao cotidiano de uma casa, com limites.

Fonte: G1

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